Cerca de 45 milhões de usuários foram transportados pelas rodoviárias do Rio Grande do Sul, em 2015. Cinco anos depois, na pandemia, esse número caiu para 13 milhões. Em 2021, ainda sem o fluxo das festas de Natal e Ano Novo, os usuários transportados não chegaram aos 9 milhões. Os dados são do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), órgão responsável por gerir e fiscalizar o transporte rodoviário.
Com a redução ano a ano do número de usuários, fica cada vez menos atrativo para cidades, mesmo as mais populosas, manterem uma estação rodoviária. Pensando numa solução para este problema, o Daer têm investido no lançamento de editais para uma nova modalidade de terminal: as agências rodoviárias.
Na Região Metropolitana, por exemplo, além de Porto Alegre, apenas Novo Hamburgo e São Leopoldo possuem espaços oficialmente classificados como estações rodoviárias pelo Daer. Cidades populosas e com ligação a outras partes importantes do Estado, como Litoral e a Serra, não possuem terminal. É o caso de Canoas e Viamão. E se em cidades maiores isso já é uma dificuldade, em outros locais menores, como Esteio ou Eldorado do Sul, são paradas improvisadas que fazem as vezes de terminal de embarque e desembarque.
Espaço é para viagens de longo curso
Antes da pandemia, ainda em 2019, mais da metade dos 497 municípios gaúchos não possuíam rodoviária. Eram 202 estações pelo Estado, número que segue até hoje. Na época da primeira reportagem, o Daer projetava licitar as estações rodoviárias — boa parte funciona ainda por autorizações provisórias.
O departamento divide os terminais em categorias: especial (apenas a estação da Capital se enquadra nesse item), primeira, segunda, terceira e quarta categoria. O que diferencia uma da outra é a receita bruta. Um terminal rodoviário funciona como partida, chegada ou parada de linhas de longo curso. No sistema intermunicipal, o Daer determina que as rodoviárias fiquem com 11% do valor da passagens — é de onde vem o lucro dos locais.
— Rodoviárias só podem existir onde há interesse e passagem de linhas de longo curso. A rodoviária de Porto Alegre até abriga algumas linhas metropolitanas, mas são de empresas que aceitaram pagar o comissionamento sobre a tarifa, a grande maioria é transporte intermunicipal ou até interestadual — pontua o diretor de Transportes Rodoviários do Daer, Lauro Hagemann.
Formalização do hábito
Com a queda de usuários e menos passagens sendo vendidas, manter estações unicamente com essa função tornou-se mais difícil. Na contramão disso, o Daer entende a necessidade de aumentar a cobertura de transporte rodoviário no Estado. E como fazer isso?
— Criamos as agências rodoviárias. Estes são locais que poderão ter receita bruta de até R$ 5 mil. A vantagem das agências é que elas não têm os requisitos de uma rodoviária, como necessidade de banheiro ou outras infraestruturas. O local pode funcionar junto de outro comércio. É uma espécie de posto de venda de passagens — explica o diretor do Daer.
Não é algo totalmente novo. No Interior, botecos, lancherias, farmácias e outros estabelecimentos comerciais às margens de rodovias costumam abrigar um guichê para venda de passagens. O objetivo do Daer, entretanto, é formalizar isso por meio das licitações. Por questões legais, o departamento não pode lançar editais para agências sem antes tentar licitar estações. Por isso, Lauro explica que o órgão vem fazendo um extenso trabalho de lançar editais mesmo em cidades onde a possibilidade de o certame ser deserto é alta. Só depois do insucesso destas concorrências, os editais de agência podem ser lançados.
— Já licitamos cerca de 80 estações rodoviárias entre as quatro categorias. Em relação às agências, a expectativa é que comecemos em breve o lançamento, chegando a 120 editais — projeta Lauro.
O objetivo do Daer é que atingir a abertura de 120 agências rodoviárias, aumentando significativamente a cobertura prestada hoje, mesmo que em locais que funcionarão dividindo espaço com outros comércios. Ainda não há previsão para o lançamento destes editais.
"Muito difícil cobrir o Estado todo"
Para o diretor de Transportes Rodoviários do Daer, um cenário onde cada um dos 497 municípios do Estado tenha uma rodoviária é utópico. Além das cidades muito pequenas, onde o desconhecimento sobre o funcionamento dos espaços ou a simples falta de demanda impediria a abertura até mesmo de um agência, há os chamados aglomerados. São regiões metropolitanas espalhadas pelo Estado. É o caso de Porto Alegre e cidades ao redor, Caxias do Sul e os municípios da Serra que lhe rodeiam e a Zona Sul do estado.
— Normalmente, estes locais acabam centralizando a demanda em uma estação maior e não há espaço para terminais em cidades muito próximas — relata Lauro.
Caso parecido ocorreu em Canoas. Apesar de estar entre os mais populosos do RS, o município não tem estação rodoviária. A proximidade com Porto Alegre fez com que a Veppo, mesma empresa que opera a rodoviária da Capital, desistisse de atuar na estação em Canoas, centralizando as operações no terminal de Porto Alegre. Hoje, conforme a prefeitura de Canoas, o embarque para viagens intermunicipais e interestaduais ocorre numa parada na frente da antiga rodoviária e na Praça do Avião.