Sete em cada 10 piranhas capturadas na bacia do Rio Jacuí, em Cachoeira do Sul, têm plenas condições de reprodução. O dado, revelado em um estudo desenvolvido pela Defesa Civil do município, demonstra que a espécie invasora se adaptou plenamente à região e encontra facilidade para se disseminar por todo o sistema fluvial do Estado.
Um relatório mapeando a presença a presença das palometas nos afluentes do Jacuí foi divulgado nesta quarta-feira (22). O levantamento demonstrou o que as autoridades ambientais já suspeitavam: sem enfrentar um predador natural, as chamadas piranhas vermelhas de água doce se multiplicam rapidamente por lagos, rios e lagoas gaúchas, ameaçando a tranquilidade de banhistas no próximo verão.
O estudo identificou a localização, o tamanho e a condição de fertilidade dos peixes. Do total de 277 exemplares capturados, 73% tinham ovas, ou seja, plenas condições de reprodução. Mais da metade (58,84%) foi localizada no próprio Rio Jacuí, mas relatos de pescadores e da comunidade ribeirinha também apontaram a existência dos animais no Arroio Vacacaí (37,54%), no Arroio Botucaraí (1,44%) e em outros seis açudes das redondezas (2,16%).
No estudo feito em Cachoeira do Sul, um quarto (24,54%) dos exemplares tinha mais de 20 centímetros de comprimento. Mais da metade (53,80%) apresentava entre 10 e 20 centímetros. O tamanho alcançado é mais uma demonstração de que praticamente não há empecilhos ao crescimento das palometas.
Nativas do Rio Uruguai, as piranhas são vorazes. Se tornou cena comum no Estado os pescadores depararem apenas com carcaças ao revisarem as redes e espinhéis. Com dentes pontiagudos e de formato triangular, não raro as palometas descarnam totalmente bagres, jundiás, traíras e tambicas. Desde o início do ano, há registros da presença do animal em quase toda a bacia do Jacuí, em Cachoeira do Sul, Rio Pardo, Vale Verde e General Câmara.
Ninguém sabe explicar como elas se espalharam. Pesquisadores especulam que os peixes tenham sido tragados pelas tubulações usadas para irrigar lavouras às margens dos rios Vacacaí e Ibicuí, onde se encontram as bacias do Uruguai e do Jacuí. Aos poucos, as piranhas foram se reproduzindo e, com comida farta, aumentando de tamanho.
Diante da escassez cada vez maior de dourados, espécie que se comporta como predador natural, a chegada das piranhas ao Guaíba é tratada como questão de tempo. Além de consumir os demais peixes, elas costumam atacar humanos, sobretudo se o banhista tiver algum ferimento nos braços ou pernas. O Ibama deve lançar nos próximos dias um plano de ação com iniciativas de curto, médio e longo prazo para tentar conter ou pelo menos reduzir os danos causados pela infestação.
O resultado do levantamento da Defesa Civil foi debatido na tarde desta quarta-feira na Casa de Cultura de Cachoeira do Sul. Técnicos de órgãos ambientais pretendem analisar os dados e discutir uma ação conjunta de combate à espécie.
— A primeira etapa foi fazer esse mapeamento. Agora estamos reunindo um corpo técnico para buscar soluções — afirma o coordenador do estudo e agente da Defesa Civil em Cachoeira do Sul, Cristiano Garcia.