Um mutirão do Instituto-Geral de Perícias (IGP), iniciado na última segunda-feira (14), já coletou material genético de 186 familiares de pessoas desaparecidas no Rio Grande do Sul. O número é maior do que a soma dos últimos três anos, período em que foram recolhidas 158 amostras.
O resultado surpreendeu os responsáveis pela ação, realizada em 11 municípios gaúchos e também em outros Estados, por meio da Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas, lançada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Nos últimos cinco dias, equipes do IGP coletaram sangue e impressões digitais nos municípios de Porto Alegre, Novo Hamburgo, Viamão, Gravataí, Alvorada, São Leopoldo, Caxias do Sul, Passo Fundo, Pelotas e Santa Maria. Na tarde desta sexta-feira (18), a campanha ocorre em Canoas, até as 17h, na Praça do Avião. Agentes da Polícia Civil também participam da ação, registrando ocorrências de desaparecimentos.
Os materiais recolhidos serão comparados com os de restos mortais armazenados em um banco de dados do Estado, que atualmente tem 508 corpos não identificados. Segundo a administradora do Banco de Perfis Genéticos do Rio Grande do Sul (BGP/RS), a perita criminal Cecília Fricke Matte, muitas famílias sequer sabiam que esse serviço existe.
— Fizemos a campanha para divulgar o trabalho, para que as pessoas nos procurem. A expectativa é de que a gente identifique várias pessoas. Mas, se identificarmos apenas uma e acabarmos com o sofrimento de uma família, já será gratificante — afirma.
Assim que o mutirão terminar, o IGP vai cadastrar as amostras e inseri-las no banco. Os dados serão cruzados por meio de um software chamado Codis (Combined DNA Index System) — o mesmo usado pelo FBI, nos Estados Unidos. Se o sistema acusar uma possibilidade de vínculo, os peritos irão analisá-la mais profundamente para saber se a ligação é verdadeira.
Caso o resultado seja positivo, um laudo é enviado ao Departamento Médico-Legal (DML) e a delegacia responsável pelo caso irá entrar em contato com a família, que poderá incluir o nome da pessoa na certidão de óbito. Desde 2012, quando o sistema começou a ser abastecido, 37 restos mortais foram identificados. Se o corpo foi enterrado como indigente, os parentes podem buscar autorização judicial para sepultá-lo em outro lugar.
Quando o resultado é negativo, o perfil genético do familiar é mantido no banco de dados até que a pessoa seja localizada, de forma que o material não precise ser coletado novamente.
Segundo a perita Cecília, o sistema do IGP faz automaticamente o cruzamento de informações todas as sextas-feiras. Os dados também são enviados ao banco nacional, para que seja feita a comparação em outros Estados. Ela enfatiza que quem não participou da campanha não perdeu a oportunidade de fazer a coleta, pois o trabalho é contínuo: basta registrar a ocorrência e comparecer ao posto médico-legal.
O resultado do exame de DNA costuma ser rápido, mas a grande demanda dos últimos dias deve fazer com que os cruzamentos de materiais coletados terminem apenas daqui a algumas semanas.
Esperançosa, a auxiliar de cozinha aposentada Carmen Sílvia Prates, 69 anos, foi até o local do mutirão no bairro Restinga, em Porto Alegre, na manhã desta sexta-feira. Ela fez coleta de material genético na tentativa de encontrar o filho, Jefferson Ferraz Prates, desaparecido em 1994, aos 18 anos.
— Mesmo que ele não esteja vivo, ao menos vou encontrá-lo e diminuir essa angústia, essa mágoa que toma conta de mim há quase 30 anos. Estou confiante — diz Carmen, que ficou sabendo sobre o mutirão do IGP na semana passada pelos meios de comunicação.
Como encontrar o serviço
Quem tem um familiar desaparecido não precisa esperar por um mutirão do IGP para fazer a coleta de DNA. Basta se dirigir à uma delegacia de polícia e registrar o boletim de ocorrência, informando o máximo de detalhes possível sobre a pessoa desaparecida. A Polícia Civil faz o encaminhamento ao posto médico-legal, para que o material genético seja recolhido.