Há sete meses, familiares vivem a angústia de não ter notícias sobre o paradeiro de uma adolescente, moradora do Centro Histórico de Porto Alegre. Letícia Torquato Pereira, à época com 15 anos, desapareceu em 18 de setembro do ano passado, quando saiu de casa para ir até a Usina do Gasômetro. Desde então, os parentes tentam descobrir onde está a garota. O caso segue sob investigação da Polícia Civil.
Letícia residia com os avós maternos na Rua Demétrio Ribeiro, em um apartamento de onde saiu naquela tarde e não regressou mais. Alguns dias depois, fez contato por telefone com a avó Dirlei Torquato, 67 anos. Na ligação rápida, prometeu regressar em breve, mas não voltou. Depois disso, não houve mais informações concretas sobre o destino da adolescente.
— Não tem sido fácil para ninguém. É desesperador. Não sabemos absolutamente nada. Tudo é uma incógnita. Mas não perdemos as esperanças. Continuamos em orações, acreditando no trabalho da polícia, na apuração deles — diz Dirlei, que é a responsável legal pela adolescente.
O pai de Letícia faleceu antes do nascimento dela, em outubro de 2004, vítima de latrocínio, ao reagir a um assalto na Zona Sul. Dezesseis anos depois de perder o filho Rodrigo de Carvalho Pereira, que tinha 22 anos, alvejado por um tiro no abdômen, a aposentada Valéria Beatriz de Carvalho, 67 anos, vive o drama de não ter respostas sobre o paradeiro da neta.
— É terrível. Não sou de ficar quieta. Quando meu filho foi morto, não me calei, fui atrás. Até tudo se esclarecer. Agora, vivo nova angústia com a filha dele — descreve a avó, que na época foi uma das fundadoras da ONG Corações e Mentes Contra a Violência, por meio da qual manteve contato com outros pais que tinham perdido filhos de forma violenta.
Em 2004, Valéria conheceu a mãe de Letícia no velório do filho, já que os dois não mantinham um relacionamento. Ele sabia que a jovem estava grávida, mas não teve tempo de conhecer a bebê. A menina nasceu quatro meses após a morte do pai, em 2 de fevereiro de 2005. A chegada da criança, recorda a avó, foi um alento após a perda precoce.
— Estava de luto ainda, quando fizemos o chá de bebê da Letícia. Era um pedacinho do Rodrigo que continuava ali. Tinha uma ligação muito forte com ela — diz a avó.
Valéria conta que chegou a comprar três vestidos para presentear a neta, mas que não houve tempo para entregá-los. Agora, apega-se nas roupas, na expectativa de que ainda possa ver a adolescente. Os familiares seguem compartilhando nas redes sociais publicações em busca do paradeiro da adolescente. As duas avós concordam que a menina não permaneceria tanto tempo sem fazer contato com a família e temem pelo pior. Valéria, quando fica sabendo de alguma informação sobre algum corpo feminino localizado, desespera-se.
— Sempre que vejo uma notícia assim vou atrás para saber. Temos que estar sempre alerta. É uma angústia constante. Vivo em função disso. Não passa nunca — desabafa.
Investigação
A diretora da Divisão Especial da Criança e Adolescente (Deca), delegada Eliana Parahyba Lopes, diz que três linhas de investigação são apuradas em relação ao caso. A policial prefere, no entanto, não detalhar as apurações no momento, para não atrapalhar o andamento do caso. A polícia aguarda ainda a quebra de sigilos de dados tanto da adolescente, como de pessoas próximas.
Quem tiver informações que possam contribuir com a elucidação do caso deve entrar em contato com a Polícia Civil. É possível telefonar para o Disque Denúncia, pelo 181, ou enviar mensagem pelo WhatsApp (51)98444-0606. Informações também podem ser repassadas por meio do Disque 100.
O desaparecimento
No dia em que sumiu, Letícia estava no apartamento dos avós com a irmã, de 11 anos, no Centro Histórico. As duas saíram de casa com intuito de passar na casa da mãe, que reside nas proximidades. Chegaram a estar no local, mas não encontraram a mãe, que havia saído. A avó Dirlei havia ido até um laboratório de fotografia, na Avenida Borges de Medeiros. Letícia deixou a irmã na entrada do laboratório e disse que iria até a Usina do Gasômetro.
A adolescente não levou documentos, roupas ou qualquer pertence de valor. Dirlei diz que soube por amigos da garota que ela esteve em um churrasco naquela noite, após o sumiço. Depois disso, em 23 de setembro à tarde, recebeu telefonema da neta. Em rápida ligação, a adolescente teria dito que estava bem, na casa de uma amiga, e que regressaria dois dias depois.
Quando sumiu, Letícia cursava o 1º ano do Ensino Médio, na Escola Técnica Estadual Parobé, mas desde o início do ano estava sem aulas presenciais por conta da pandemia.
— A mãe dela está fazendo terapia. A irmã pequena está muito abalada também, eram companheiras, muito amigas. É muito triste — diz Dirlei.
Dicas de como agir em desaparecimentos
- Procure a delegacia mais próxima e registre o caso imediatamente
- Leve fotos atualizadas do desaparecido na hora de registrar a ocorrência
- Avise amigos e familiares sobre o sumiço
- Percorra locais de preferência da criança
- Saiba informar quem são os amigos dela e com quem pode estar
- Esteja atento às roupas que a criança ou adolescente está usando e, em caso de sumiço, descreva para a polícia
- Mantenha alguém à espera no local de onde ela sumiu. É comum que ela retorne para o mesmo ponto
- Ensine as crianças, desde pequenas, a saberem dizer seu nome e o nome dos pais
- Quando a criança ou adolescente for localizada, informe a polícia