Com apenas 1,7 mil habitantes, o município de Ponte Preta, no norte do Estado, é o segundo no ranking da Defesa Civil que mais tempo permaneceu em situação de emergência no Rio Grande do Sul, nos últimos dois anos, em razão da estiagem — atrás de Fontoura Xavier. Foram 251 dias nessa condição.
GZH esteve na cidade nesta quarta-feira (26) e conversou com moradores e autoridades para entender os motivos desses decretos.
Diferentemente do primeiro colocado no ranking, Ponte Preta não enfrenta dificuldade de abastecimento para a população. No entanto, amarga prejuízos na agricultura e na pecuária pela escassez de água.
O agricultor Dionísio Balbinot, 67 anos, dava comida aos animais quando a reportagem chegou à sua propriedade, na Linha Coxilha Seca, que fica a cerca de 10 quilômetros do centro da cidade. Solícito, já começou a mostrar os problemas causados pela estiagem quando perguntado. Tratou de desligar a cerca elétrica da plantação de milho para subir o morro e mostrar um pouco do prejuízo que teve.
— Só no plantio do milho, eu tive uma perda de uns 80% — disse o agricultor.
O milho é uma das fontes de alimentação do gado de leite. Consequentemente, Dionísio teve que encontrar alternativas para que os animais não ficassem sem o que comer. O pasto amenizou o problema, mas fez com que a produção leiteira diminuísse. Outro transtorno para os animais foi a falta de água.
— A prefeitura que traz (água) para nós. Ó, pode ver, não temos quase água para os animais beberem — disse Dionísio, apontando para uma fonte, quase seca, de água turva que tem matado a sede do gado, mas que não é a ideal para a produção leiteira.
Além de leite e milho, Dionísio e a esposa também plantam um pouco de soja e feijão. Na soja, quase não houve prejuízo, já que o grão foi colhido antes da severidade da estiagem. Já o feijão teve perdas, mas o agricultor não soube estimar.
— Nós estamos vivendo dois anos sofridos aqui. Falta chuva. Se não fosse a chuva do final de semana (22 e 23 de maio), isso aqui estaria seco — relatou, novamente apontando para o fio de água que corria lentamente no barro.
Todos os peixes que existiam no pequeno açude da propriedade morreram. A água escura, agora, é usada pelos patos.
A base da economia do município de Ponte Preta é a agricultura e a pecuária. Se vão mal, o comércio local também reduz as vendas. Segundo o prefeito Josiel Fernando Griseli (PT), a perda no milho em grão chegou a 55,5%; no milho para silagem, 45,5%; na cevada, 41,7%; e no trigo, 33,4%.
Se por um lado há prejuízo no setor agropecuário, não falta água nas torneiras da população. O município é abastecido por poços artesianos, e nenhum deles chegou a secar com a falta de chuva. São 12 na área urbana e três na área rural.
— Água para a população não faltou, mas a gente fez campanha para que economizassem. Pedidos para não lavarem carros, por exemplo, até uma melhora na precipitação — destaca o prefeito.
O esgoto da cidade não é tratado. As residências possuem o sistema de fossa, filtro e sumidouro. O objetivo do prefeito é retomar a construção de uma estação de tratamento que começou a ser erguida por meio de um convênio com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Se tudo der certo, pode estar em operação ainda neste ano.
Sobre permanecer tanto tempo em situação de emergência devido à estiagem, o coordenador da Defesa Civil municipal, Joceli Nazzari, diz que o objetivo principal é poder ajudar os agricultores através de financiamentos.
— Para o agricultor que tem a sua produção financiada junto à rede bancária, tem a questão do seguro agrícola. Mas também facilita nas negociações que ele tem junto aos bancos com seus empréstimos, financiamentos de máquinas, implementos agrícolas — explica o servidor.
Além disso, Nazzari lembra que o decreto uma vez homologado permite, por exemplo, compras urgentes sem a necessidade de licitações.
— Além disso, ajuda na busca de recursos dos governos estadual e federal — complementa.
Recentemente, uma verba federal ajudou na compra de dois bolsões de 6 mil litros cada, e duas bombas para puxar água e encher esses reservatórios. Com isso, fica mais fácil transportar a água em caso de necessidade. Um caminhão-tanque da prefeitura também é usado para o transporte.