As perspectivas para a próxima safra de soja e de milho são positivas. Neste momento, trazem a melhor relação de troca (número de sacas necessárias para cobrir os custos) em uma década para o milho e em nove anos para a soja. É o que aponta o primeiro levantamento feito pela Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro-RS). Reflexo da valorização dos grãos, que vai além do avanço das despesas.
Feito nas cooperativas, que respondem por 50% da área plantada no Estado, o levantamento considera cotações e gastos no início de maio. E toma como base lavouras de soja com produtividade de 60 sacas por hectare e de milho com 160 sacas – na safra recém colhida, a média estadual foi de 55,43 na soja e 90,5 no milho.
— É um cenário favorável porque os preços (dos grãos) aumentaram mais do que os custos. Mas temos de torcer para que os preços não caiam — pondera Paulo Pires, presidente da entidade.
A ressalva do dirigente faz sentido à medida que a alta dos desembolsos já existe, e o valor a ser pago pelas commodities poderá variar. Diretor técnico da entidade, o economista Tarcísio Minetto lembra também que nem todos produtores venderam no atual patamar de preços. E em algumas regiões, há um passivo da quebra de safra de 2020 sendo carregado. Em especial na cultura do milho, com regiões tendo nova redução no ciclo 2020/2021.
No retrato capturado pelo estudo, a cotação da soja (R$ 165,07 a saca, preço de balcão) é 70% maior do que há 12 meses. No milho, a valorização foi superior, com o valor (R$ 88) representado mais do que o dobro do que em igual período. O ponto de atenção vem dos insumos que sustentam a expansão dos custos: variação cambial, fertilizantes mais caros em dólar, aumento de combustíveis, de sementes e de máquinas e até mesmo o encarecimento do seguro rural.
— Seguro agrícola se tornou o segundo item mais caro dos custos de produção — diz Pires.
Na soja, o custo total cresceu 31,78%, e o desembolso, 29,78%. No milho, o avanço foi de 31,6% e de 27,36%. Esse aumento tem impacto direto sobre a renda do produtor, ressalta Minetto, sobretudo porque pode haver mudança nos preços dos grãos.
— Cada produtor tem um patamar de custos e uma janela de oportunidade de compra de insumos. Tem de analisar qual é o melhor momento para ele — orienta o diretor técnico.
Com plantio iniciando neste mês, o trigo, principal cultura de inverno, também teve os valores atualizados em relação ao levantamento anterior.
O custo total ficou 29,75% maior do que na safra passada.