Quatro pessoas morreram em um incêndio que ocorreu em uma cadeia localizada dentro de uma reserva indígena em Ronda Alta, no norte do Estado, na madrugada desta quarta-feira (21). Segundo a Polícia Civil, a prisão fica na comunidade Alto Recreio, na reserva da Serrinha.
A investigação, que não descarta incêndio criminoso, aponta que um grupo de seis integrantes da aldeia estaria fazendo uma festa e bebendo em uma residência. Autoridades da tribo foram ao local e prenderam as pessoas, mas duas conseguiram fugir.
Os detidos foram encaminhados à cadeia, localizada atrás de um ginásio, dentro da reserva.
— O Estatuto do Índio permite punições próprias, desde que não ultrapassem os limites da ética e que todos os direitos sejam assegurados — ressalta o delegado Leandro Antunes, que é de Sarandi e responde por Ronda Alta.
Por volta da 1h, o Corpo de Bombeiros foi acionado devido a um incêndio no local. Após as chamas serem controladas, foram localizados os quatro corpos — as vítimas são três homens e uma mulher.
Os corpos já foram identificados e a perícia foi acionada para confirmar os nomes, além de verificar todos os vestígios possíveis sobre as causas do fogo. A polícia confirma que as vítimas tinham entre 21 e 25 anos: Josué Gabriel Silveira, 23 anos; Suzana Mariano, 24; Esmael Batista, 25, e Edilson Kesig Paulo, 21.
Antunes afirma que está averiguando várias possibilidades e não descarta uma ação criminosa. A Polícia Civil vai apurar o caso e já está buscando testemunhas para depoimentos, além do cacique local.
Cacique da aldeia
O cacique Marciano Claudino informa que os próprios familiares das vítimas denunciaram o barulho e o uso de álcool envolvendo o grupo. Segundo ele, como de costume, providências foram tomadas e o grupo foi detido, mas em menos de uma hora, ocorreu a tragédia.
Claudino diz que todos estão tristes e preocupados porque é uma comunidade pacífica envolvendo 3 mil indígenas em 12 mil hectares nos municípios de Ronda Alta, Constantina, Três Palmeiras e Engenho Velh. São índios caingangues e guaranis e região indígena fica distante cerca de 60 quilômetros de Passo Fundo. Em relação à cadeia, ele explica que é uma tradição.
— Estavam fazendo encrencas e tivemos que tomar providências. Prendemos pela noite e soltamos pela manhã, quando as pessoas estão mais tranquilas e pensaram sobre o que fizeram. É uma cultura nossa, é tradição, até eu, que sou cacique, já fui preso. Com isso, 99% dos nosso problemas são resolvidos dentro da própria aldeia — ressalta Claudino.
O cacique ainda afirma que a localidade é referência no Estado por não ser violenta e ter organização exemplar. Sobre os motivos do incêndio e as fugas, de pelo menos dois índios que estavam no grupo fazendo festa, Claudino ressalta que vai averiguar internamente, mas que as autoridades já estão apurando tudo. Segundo ele, apenas uma das vítimas, o jovem de 21 anos, havia chegado recentemente na comunidade — havia saído de Xanxerê, em Santa Catarina —, mas todas as outras eram da região.
O Instituto-Geral de Perícias (IGP) informa que o laudo sobre as causas do incêndio deve ser concluído em 30 dias.