Há quase três dias sem energia elétrica no Amapá, moradores de Macapá têm relatado falta de água, de alimentos e até a impossibilidade de compra para itens básicos. Sem uma previsão concreta de quando a situação deve se normalizar, a população começa a se organizar para uma manifestação no próximo domingo (8) para cobrar uma posição dos governantes, enquanto se vira para ter o básico.
A historiadora Marcella Viana, de 27 anos, conta que está recebendo amigos de todas as regiões de Macapá na quitinete de dois quartos que ela divide com a mãe, de 50 anos, e as irmãs, de oito e 20.
— A circulação de pessoas lá está alta porque tenho muitos amigos que moram sozinhos e estão sem ter como comer ou tomar banho e minha mãe ajuda eles — relata.
Ela se refere a um restaurante no centro da cidade, que funciona por gerador e onde ela tem ido desde a última quarta-feira para carregar o celular e tentar divulgar a situação do Estado.
Além disso, Marcella explica que algumas pessoas têm recorrido a lagos, poços e ao Rio Amazonas, onde recolhem água tanto para o banho como para beber, mesmo que ela não seja potável.
Para quem mora nas comunidades mais afastadas, os baldes e litros de água fluvial podem custar até R$ 20 para o transporte. Nos supermercados, o galão com um litro da água mineral já chega a custar R$ 35, e mesmo assim não é suficiente para toda a população. Na noite de quinta-feira (5), a prefeitura de Macapá começou a distribuir caminhões pipa para abastecer algumas regiões da Capital.
— Eu só saio de casa atrás de sinal depois que já consegui água e comida para minha família. Ontem (quinta-feira) ainda consegui comprar água, hoje consegui baldes que as pessoas recolheram com o que caiu da chuva na véspera — conta ela.
Os poucos supermercados que ainda estão vendendo água, ela explica, já começaram a racionar a venda por pessoas:
— Mas a compra está sendo diária porque não tem gelo na cidade também, então as pessoas não têm onde armazenar.
Morando no bairro de Novo Buritizal, a estudante Cássia Riane Amanajas Cordeiro, de 14 anos, conta que ainda não viu nenhum dos caminhões pipa disponibilizados pela prefeitura na área onde reside com os pais.
— Estamos sem água também, até para beber. Os caixas eletrônicos não estão funcionando, então está difícil até de comprar comida, pois nem todos os comércios aceitam cartão de crédito — relata.
Desde que a energia elétrica caiu na cidade, a família tem conseguido o mínimo de água por meio dos parentes e vizinhos próximos que têm poços.
O advogado Hélio Castro, de 34 anos, está ajudando a organizar o "Reacende Amapá", protesto marcado para as 16h do domingo (8), na Praça da Bandeira, em Macapá. O objetivo é reunir a população vestida de preto, para simbolizar a falta de energia que assola o Estado há três dias e, simultaneamente, impedir que o ato seja tomado por bandeiras políticas.
— Nossa única bandeira é a do Amapá — afirmaram os membros do grupo.
Castro e os pais, os funcionários públicos Gersuliano da Silva e Ana Célia Pinto, de 63 e 55 anos, estão conseguindo tomar banho com a água da chuva que ficou retida na piscina.
— Não tem como salvar os alimentos porque a geladeira não funciona e não temos gerador. A água da torneira parou de cair no primeiro dia de apagão — explica, contando que alguns amigos também conseguiram recolher a água que caía das calhas nos dias anteriores.
A reportagem tentou contato com a Secretaria de Saúde do Estado e de Macapá, assim como as assessorias do município e do Estado do Amapá, mas não obteve sucesso.