A Polícia Federal já prendeu 18 pessoas na localidade de Água Santa, norte do Estado, na manhã desta sexta-feira (4). Os alvos são índios caingangues radicados na localidade, que tem 4 mil habitantes e fica próxima a Passo Fundo.
Dois grupos rivais de caingangues disputam o poder no Posto Indígena Carreteiro, uma área de 600 hectares onde vivem 500 indígenas. Com isso, Água Santa registrou mais de 70 incidentes em dois meses, com emboscadas a tiros, brigas com facadas, pedradas e incêndio de casas.
Uma força-tarefa composta por policiais federais, civis, militares e agentes da Susepe tenta cumprir 21 mandados de prisão preventiva e 28 de busca.
A Polícia Federal suspeita que a discórdia foi motivada por arrendamentos de terras e indicações de cargos nas escolas e postos de saúde da região. As hostilidades se agravaram quando o cacique Getúlio Daniel foi ferido com um tiro numa perna, durante uma emboscada. Foi uma represália por ele ter mandado embora da aldeia 147 caingangues.
O cacique está entre os presos e também seu maior rival, José Daniel, que estava entre o que foram mandados embora da aldeia. Em entrevista a GZH, dias atrás, Getúlio disse que seus comandados são hostilizados quando vão fazer compras na cidade. Nos confrontos entre as duas facções caingangues, três indígenas foram baleados, outros foram esfaqueados e apedrejados e três casas foram incendiadas.
Homens mascarados chegaram a bloquear por mais de duas semanas as estradas que levam à área caingangue, com troncos e pedras. A Funai pediu providências à Polícia Federal, que obteve ordens judiciais para cumprir mandados na reserva indígena.
Mais de 300 servidores da área de segurança participam da operação. O inquérito da Polícia Federal apura quatro tentativas de homicídio, organização criminosa, porte ilegal de arma, ameaças, lesões corporais e incêndios criminosos em residências. Quatro armas foram apreendidas, entre elas, espingardas.
O superintendente da PF no Rio Grande do Sul, delegado José Dornelles, diz que a ação acontece porque os moradores de Água Santa estão acuados e apavorados.
— Alguns caingangues mais exaltados já estavam quebrando viaturas da BM. Isso ia culminar em morte, cedo ou tarde. Agora, com a ida dos principais envolvidos ao presídio, esperamos que a situação se acalme.
O mesmo deseja o prefeito de Água Santa, Jacir Miorando (MDB), que inclusive tinha pedido providências à chefia da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Brasília.
— A gente quer que eles se entendam, é o melhor para a comunidade — resume ele.