Sarí Côrte Real, ex-patroa da mãe do garoto Miguel Otávio de Santana, cinco anos, que morreu após cair do nono andar de um prédio em Recife (PE), em junho, negou ter apertado o botão do elevador antes de abandonar a criança. Em entrevista exclusiva ao Fantástico, transmitida na noite deste domingo (5), ela disse que tentou fazer a criança sair do local. Imagens de videomonitoramento sugerem que Sarí acionou o dispositivo que leva à cobertura do prédio instantes antes de Miguel cair do prédio.
— Eu não apertei. Não. Eu só botei a mão, como se eu fosse acionar. (...) Para ver se eu conseguia, minha última alternativa para ver se eu conseguia convencer ele a sair. Para ver se dessa forma ele achasse que, se ele fosse ficar lá, ele fosse sair — justificou Sari.
A criança estava aos cuidados de Sarí no momento em que a mãe, a empregada doméstica Mirtes Renata de Souza, passeava com o cachorro da ex-patroa. Na semana passada, Sarí foi indiciada pela Polícia Civil por por abandono de incapaz. O Código Penal prevê pena de reclusão de quatro a 12 anos em caso de morte para esse tipo de crime.
A mulher disse que não esperava esse entendimento da polícia e que vai acatar qualquer que seja a decisão da Justiça. Questionada se sentia culpa ou arrependimento em relação ao caso, Sarí afirmou que sente ter feito tudo o que podia.
— Eu sinto que fiz tudo que podia. E, seu eu pudesse voltar no tempo, eu voltava. Se eu soubesse que tudo isso ia acontecer, eu voltava e ainda tentava fazer mais do que eu fiz naquela hora.
Na entrevista, Sarí afirmou que “não passou pela cabeça” dela que o fato de deixar a criança sozinha dentro do elevador poderia causar algum risco.
— Não achei que seria essa tragédia. Eu acreditava que ele voltaria para o andar. Que ele voltaria para o quinto andar. Até porque ele sabia os números, sabia tudo. Eu imaginei que ele voltaria para o andar.
A mãe da criança afirmou que Miguel tinha dificuldades com alguns números, precisando de auxílio, e que o menino não sabia usar o elevador sozinho, pois sempre usou o equipamento acompanhada dela ou da avó.
O delegado Ramon Teixeira, responsável pelas investigações, afirma que o fato dela ter apertado ou não o botão para a cobertura não é determinante para o caso, mas sim o fato de ela não ter acompanhado a situação do menino após ele ficar sozinho no elevador.
— Aquela conduta omissiva de permitir o fechamento da porta, aquilo sim tem valor jurídico-penal bastante relevante, inclusive para responsabilização penal.
A manicure que prestava serviços para Sarí no dia do incidente afirmou que a cliente queria retomar o atendimento enquanto tentava ligar para a mãe de Miguel. Sarí negou essa versão.