A maioria dos brasileiros acredita que governadores e prefeitos estão agindo mal ao reabrir comércio e serviços fechados pela pandemia do coronavírus, aponta nova pesquisa Datafolha. As entrevistas foram realizadas por meio de telefone, com 2.016 brasileiros de 16 anos ou mais, nos dias 23 e 24 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, com um nível de 95% de confiança.
A reabertura tem ocorrido em um momento em que o país ainda não atingiu o pico da doença, com projeções científicas sobre o número crescente de novas mortes. A pesquisa mostra também que duas a cada três pessoas acreditam que a situação da pandemia está piorando no país. Em São Paulo, por exemplo, shoppings estão sendo abertos novamente, com restrição de horários, desde 11 de junho — dia em que a cidade registrou 125 mortes pela covid-19. Desde então, esse número diário já foi superado pelo menos em cinco ocasiões.
Agora, a capital paulista prepara também a retomada do atendimento presencial em bares e restaurantes, além da reabertura de parques, ainda que o número de casos não tenha sido controlado. A justificativa é que a situação hospitalar está mais controlada, com leitos disponíveis para atender os doentes.
Casos similares ocorrem em todo o país. Por trás da pressa em reabrir antes do controle da doença, está a tentativa de reduzir o impacto econômico e seus reflexos políticos em ano de eleições municipais. O que o estudo feito pelo Datafolha sugere é que a retomada do comércio e dos serviços antes da hora também pode ter custo eleitoral.
Dados da pesquisa
Os setores da população mais contrários à reabertura são formados por mulheres (58% acreditam que governadores e prefeitos agem mal ao tomar essas decisões), jovens (61% dos que têm entre 16 e 24 anos compartilham essa opinião) e os mais escolarizados (56% dos que têm ensino superior).
Tanto entre mais pobres, que dependem mais de programas de auxílio, como entre os mais ricos, a maioria se diz contrária à ação dos governadores neste momento. Entre o empresariado, no entanto, 60% diz que apoia as decisões do poder público de retomar as atividades.
Cidades do interior paulista que começaram a flexibilizar as restrições (e depois tiveram que regredir) tiveram crescimento nas internações e mortes por coronavírus maior do que a média. Nos Estados Unidos, estados que retomaram sua atividade econômica antes do controle da doença também tiveram que voltar atrás e se fechar novamente.
Segundo país com mais mortes
O Brasil é o segundo país onde a covid-19 matou mais gente até agora em números absolutos. São mais de 57 mil mortes registradas até o começo da tarde de segunda-feira (29), sem contar os casos que não são notificados.
Há duas semanas, o Ministério da Saúde informou que o Brasil estava estabilizando o número de novas mortes, entrando no chamado "platô". Na última quarta-feira (24), no entanto, o governo recuou e admitiu que o país ainda registrava avanços na doença.
Um modelo matemático de pesquisadores prevê novos recordes diários nas próximas semanas, chegando a 1.960 novas mortes em 10 de julho — o maior número de registros diários até agora foi de 1.473, no começo de junho. Diante desse cenário, 65% da população afirma que a pandemia está piorando no país, mostra a pesquisa Datafolha.
A avaliação é majoritária em todos os segmentos sociodemográficos, com índices altos entre mulheres (70%), moradores do Sul do país (73%) e entre os mais jovens (74%). Mesmo a parcela que declarou voto no atual presidente Jair Bolsonaro, que negou a gravidade da doença, a princípio, e tentou evitar o fechamento das atividades econômicas, concorda com isso.
Entre os eleitores do presidente, 52% disseram que a situação está piorando. Já na parcela da sociedade que ainda avalia a gestão Bolsonaro como ótima ou boa, no entanto, 51% afirma que a situação da doença está melhorando.
A maioria dos entrevistados (54%) também afirmou que o Brasil não fez o que era preciso para evitar as mais de 50 mil mortes que ocorreram pela doença, percepção que cresce conforme a escolaridade e a faixa de renda dos entrevistados. Nada do que o país fizesse, no entanto, seria suficiente para evitar esse número, avaliam 19% dos entrevistados. Outros 23% afirmam que o país fez o que era preciso.