Um novo baque para as empresas, que deverá intensificar demissões e até mesmo levar ao fechamento definitivo dos negócios. Assim dirigentes de diferentes setores da economia gaúcha classificam os efeitos que deverão ser gerados pela implementação ou a continuidade da bandeira vermelha em seis regiões do Rio Grande do Sul, apontadas no modelo de distanciamento controlado do governo do Estado como locais de alto risco de contaminação do coronavírus.
Na nova rodada, que entra em vigor nesta terça-feira (30), lojas do comércio e empresas de serviços não essenciais ficam impedidas de abrir ao público e a indústria funcionará com restrições no entorno de Canoas, Capão da Canoa, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Porto Alegre e Santo Ângelo. Inicialmente, Caxias do Sul, Erechim e Palmeira das Missões também haviam sido classificadas como bandeira vermelha e teriam de reforçar as restrições, mas o Palácio Piratini aceitou os recursos das regiões e, assim, elas voltaram à cor laranja.
As restrições valem por uma semana, exceto nas regiões reincidentes na classificação vermelha nas últimas semanas. Este é o caso de Canoas, Capão da Canoa, Novo Hamburgo e Porto Alegre, que terão de paralisar as atividades por 14 dias. O presidente da Federação do Comércio de Bens e Serviços do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Luiz Carlos Bohn, aponta que o “abre e fecha” afeta o planejamento das empresas e acaba intensificando prejuízos.
— Entendemos que as bandeiras têm de existir, mas acreditamos que o comércio poderia se manter aberto com capacidade reduzida nas quatro etapas do distanciamento. Não é possível fazer um negócio funcionar com esse abre e fecha. Não se retoma a atividade tão fácil assim – avalia.
Em Caxias do Sul, cidade dona da segunda maior economia do Estado, a volta à bandeira vermelha anunciada na sexta-feira passada chegou a gerar apreensão entre os empresários. O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias, Ivanir Gasparin, lembra que nas últimas semanas empresas tradicionais do setor de serviços, com décadas de existência, optaram por encerrar as atividades. Além disso, ele constata que a oferta de imóveis comerciais para aluguel disparou nos bairros da cidade. Gasparin classifica que a revisão da bandeira trouxe alívio.
— A doença não é brincadeira, mas não podemos deixar nossas empresas fecharem. O empresariado vai ter de se reinventar e se acostumar a pensar semana a semana — aponta.
Empresários da região das Hortênsias, incluída nas regras aplicadas a Caxias do Sul no modelo de distanciamento controlado do RS, defendem que a Serra seja desmembrada em três blocos para a definição das bandeiras. A avaliação é que, desta maneira, a região das Hortênsias poderia ser enquadrada em uma bandeira que permita o funcionamento do setor turístico e possibilitaria que as empresas se planejassem melhor.
— Esse vaivém das bandeiras afasta os turistas. A pessoa vê essa situação e acaba desistindo da viagem. Se nos mantivéssemos em bandeira laranja, isso poderia dar um pouco mais de tranquilidade para trabalhar — afirma Mauro Salles, presidente do Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares da Região das Hortênsias (SindTur Serra Gaúcha).
Indústria
Ainda que o funcionamento da indústria seja permitido na bandeira vermelha, com 75% da capacidade, o setor acaba sentido no caixa os efeitos do fechamento do comércio. Dentro deste contexto, um dos segmentos mais impactados é o calçadista.
— O maior impacto para o setor é a situação do comércio. Com as lojas fechadas, a indústria não recebe pedidos – explica Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
O dirigente lembra que muitas empresas do Vale do Sinos, uma das atingidas pela bandeira vermelha, têm funcionários prestes a voltarem da suspensão de contrato ou redução de jornada de trabalho, conforme a Medida Provisória (MP) 936. Sem a prorrogação deste experiente, Ferreira acredita que mais demissões devem ocorrer no segmento. Desde o início da pandemia, as fábricas de calçado do Estado já cortaram 10,8 mil vagas.