Uma semana após o alerta para o risco de colapso no sistema de saúde acender em Porto Alegre devido aos consecutivos recordes de hospitalizações por coronavírus, o mesmo sinal disparou no município vizinho de Canoas. Apenas dois dias depois de quase duplicar a capacidade da UTI covid-19 na cidade, o número de pacientes internados disparou, chegando a 27 no domingo (28).
É a marca mais alta registrada pelo município desde o início da pandemia, o que levou a prefeitura a anunciar o endurecimento do controle de medidas de distanciamento social e a suspensão de cirurgias eletivas. Há, neste momento, apenas um leito disponível na UTI dedicada a contaminados pelo coronavírus na cidade.
– Estamos entrando em colapso. Temos dificuldade para contratar profissionais de saúde e aumento muito rápido na demanda por internações – disse o prefeito de Canoas, Luiz Carlos Busato.
Os 28 leitos estão situados no Hospital Universitário, uma das referências para o atendimento a pacientes de covid-19 no Estado. Em Canoas, a rede ainda disponibiliza outras quatro vagas de UTI nos dois hospitais de campanha montados pela prefeitura, mas que são locais considerados transitórios para o tratamento da doença.
– Temos visto que, nesta pandemia, não acontece apenas o esgotamento do sistema em uma única localidade, mas diferentes colapsos em cidades e períodos distintos. Infelizmente, chegou o momento de Canoas – avalia o coordenador da UTI do Hospital Universitário, Diego da Rosa Miltersteiner.
A crise nos leitos acontece mesmo após o reforço da rede de UTIs no município, ampliada em 40% desde a chegada do coronavírus. Nos últimos meses, 25 leitos de terapia intensiva – 20 no Hospital Universitário e cinco no HPS – foram habilitados em Canoas, considerada referência em saúde para mais e 150 cidades gaúchas.
Pelo monitoramento da Secretaria da Saúde do Estado, Canoas tinha, às 18h30min desta segunda-feira (29), uma taxa de ocupação de 84% em suas UTIs, somando pacientes de covid-19 e de outras doenças. Eram 74 pacientes hospitalizados nos 88 leitos disponíveis – sem o aumento das vagas, o índice de internações já teria ultrapassado em mais de 20% a capacidade.
Em nota, a secretaria informou que ainda há leitos disponíveis no Estado e que eles podem absorver pacientes hospitalizados na cidade. Também comunicou que, se necessário, fará a transferência para outros hospitais e municípios.
– A suspensão de cirurgias eletivas em Canoas ocorre justamente para garantir o atendimento de urgência e emergência de covid-19 – comentou a secretária da Saúde do Estado, Arita Bergmann, em transmissão ao vivo nas redes sociais.
Para autoridades, o recorde nas internações entre os canoenses está relacionado ao descumprimento de medidas de distanciamento social pela população. Na prefeitura, acumulam-se relatos de empresários e moradores desrespeitando normas – no último final de semana, fiscais flagraram uma festa de aniversário de criança com mais de 30 pessoas reunidas.
Durante mais de um mês, no início da crise, as atividades comerciais foram mantidas suspensas em Canoas. Em maio, a prefeitura autorizou a reabertura de lojas, shoppings, bares e restaurantes, mas, na semana passada, teve de recuar. O município foi pintado de vermelho no mapa do distanciamento controlado do governo estadual.
– Já vínhamos alertando que a população está relaxando nos cuidados. Estamos há mais de cem dias nesta função, as pessoas estão cansadas. A rotina retornou a uma certa normalidade, e o processo de contaminação aumentou – afirmou o secretário de Saúde de Canoas, Fernando Ritter. – Neste momento, é fundamental estancar esse cenário. E, para isso, as pessoas precisam ficar em casa.