Insultos racistas, falas sexistas e um usuário com a imagem de Adolf Hitler ao fundo invadiram uma transmissão virtual de um debate entre professores e pesquisadores de Minas Gerais na manhã desta quinta-feira (7).
A mesa redonda Divulgação científica em tempos de pandemia começou por volta das 8h, como parte da programação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em Minas da Marcha pela Ciência.
Os participantes e pessoas que falariam no evento receberam um link privado no aplicativo Zoom para participar, com acesso controlado. A conversa foi transmitida também pelo YouTube.
Por volta dos nove minutos e 40 segundos de transmissão, quando a professora Débora D'Ávila, da UFMG, se preparava para palestrar, uma voz masculina, falando em inglês com sotaque dos Estados Unidos, entrou no link saudando e perguntando o que havia de errado com eles.
Em seguida, outro homem, também falando em inglês, chamou os participantes de estúpidos. O primeiro usuário começou então a falar várias vezes a palavra "nigger", insulto racista em inglês para se referir a pessoas negras. Em cima da fala, o outro homem rodou uma gravação com falas de cunho sexual e machista.
Aos 11 minutos e 52 segundos, um adolescente branco apareceu na tela com uma imagem de Adolf Hitler fazendo a saudação nazista ao fundo, mas não falou nada.
Segundo pessoas presentes na reunião, havia pelo menos entre quatro e seis invasores no link e não é possível afirmar se todos eram estrangeiros. Eles foram removidos pelo administrador e o debate seguiu.
— Várias reuniões online de cientistas e divulgadores foram invadidas nas útlimas semanas. E toda instituição científica tem muita história pra contar sobre calúnias lançadas em nossas próprias redes, por perfis anônimos — diz Yurij Castelfranchi, professor de Sociologia da UFMG, que participava da reunião. Ele coordena a Força-Tarefa Amerek de informação contra o coronavírus.
Em abril, uma entrevista coletiva de imunologistas brasileiros, que tirava dúvidas sobre a covid-19, também foi invadida no Zoom com imagens nazistas.
O site onde a SBPC convocou uma manifestação virtual em Brasília também caiu na manhã desta quinta, levando à suspeita de um ataque hacker. Segundo a coordenação nacional, porém, a queda ocorreu pelo grande número de acessos em pouco tempo.
Os debates virtuais pela Marcha da Ciência estão acontecendo em 22 Estados e no Distrito Federal nesta quinta. A SBPC pediu que organizadores reforçassem medidas de segurança, como trocar a sala virtual e liberar acesso mediante senha.
A marcha virtual em Brasília ocorre no aplicativo manif.app, onde as pessoas podem criar avatares e participar do protesto. O evento é compartilhado nas redes com a hashtag #paCTopelavida (o CT sendo para ciência e tecnologia).
— Esses ataques são de provocação, de violência, mas eles não têm efetividade nenhuma. O número de pessoas é muito menor do que a gente que está reunida na Marcha. Temos que continuar trabalhando com muitos colegas do Brasil que têm sido intimidados, violentados, também na área médica, da saúde — diz o professor Luciano Mendes, secretário regional da SBPC em Minas.