Ao menos quatro Estados brasileiros já têm mais de 90% dos leitos de terapia intensiva destinados a pacientes com covid-19 ocupados. Pernambuco, Rio de Janeiro, Ceará e Roraima são os que vivem situação mais grave, com taxas de ocupação de vagas de UTI estaduais que variavam entre 100% e 93% na segunda-feira (4), o número muda diariamente, conforme a liberação de leitos por alta médica e mortes.
Um dos primeiros a registrar colapso no sistema de atendimento a pacientes graves, o Amazonas continua em situação crítica, a despeito do recente apoio do governo federal.
O governo local informou que 87% dos 171 leitos de UTI estão ocupados, mas relatos de profissionais de saúde indicam que as UTIs da rede estadual em Manaus, a única cidade do Estado com esse serviço, estão trabalhando na capacidade máxima.
O hospital de referência Delphina Aziz está cheio desde 10 de abril. De lá para cá, o governo do Estado e a prefeitura da capital abriram um hospital de retaguarda e um de campanha, respectivamente.
Nesta semana, o Estado recebeu 267 profissionais de saúde contratados pelo Ministério de Saúde. Funcionários do Delphina, porém, dizem que o principal gargalo lá é a falta de respiradores.
Entre as capitais, já são oito as com índice acima de 90%. Além de Manaus, Recife, Rio de Janeiro, Fortaleza e Boa Vista, as cidades de São Luís, Belém e São Paulo estão próximas de um colapso para o atendimento de pacientes graves.
O cenário de escalada da doença fez as prefeituras de Belém, São Luís e Fortaleza adotarem nesta semana medidas mais rígidas de isolamento social, com o bloqueio total de atividades não essenciais.
O Rio, que já registra filas para ocupação dos leitos há duas semanas, tinha 97% dos leitos estaduais de UTI para covid ocupados nesta segunda. Restavam no Estado apenas 12 das 399 vagas disponíveis.
Elas estão em dois hospitais: um fica na cidade de Volta Redonda e já recebe pacientes da capital. O outro fica no Leblon, na zona sul carioca, e é o único hospital de campanha estadual inaugurado até agora — com 42 dos cem leitos de UTI previstos.
O governador Wilson Witzel (PSC) prometeu criar 10 desses hospitais temporários até o fim de abril, com 990 vagas de UTI, mas eles estão atrasados. Enquanto isso, a fila por leitos de cuidado intensivo se acumula, e pacientes aguardam por dias em unidades inadequadas. Eram 363 pessoas à espera de transferência no Estado na segunda (4).
Em Pernambuco, com ocupação em 98%, já há filas com mais de cem pacientes aguardando por vaga de UTI. O Pará, que na semana passada teve mais de 90% dos leitos de terapia intensiva ocupados, reduziu a ocupação para 84% com a abertura de novos leitos.
Já em Roraima, o hospital geral do Estado está com lotação máxima em sua UTI destinada ao tratamento da covid-19. Até a última semana, eram 10 vagas no local, que foram ampliadas para 14. Nesta segunda-feira, havia 14 pacientes na UTI, segundo a pasta.
Enquanto o país vive escalada dos casos graves de covid-19, parte dos Estados reduziu o ritmo de abertura de leitos de terapia intensiva na última semana. A falta de respiradores é o principal entrave.
São Paulo, por exemplo, aguarda esses equipamentos para disponibilizar, gradativamente, mais 1,8 mil leitos. Segundo o secretário estadual da Saúde, José Henrique Germann, respiradores devem chegar a partir desta quinta (7) e serão instalados nos hospitais da região metropolitana.
O estado está com ocupação de 69% dos 5.017 leitos de UTI destinados ao tratamento da covid-19, mas a situação é mais crítica na Grande São Paulo, onde o índice está perto de 90%. Na segunda, os internados em unidades de terapia intensiva devido à doença já chegavam a 3.457.
No Ceará, que tinha ocupação de 93% no Estado e 97% na capital, o governo espera a chegada de 700 respiradores comprados de fornecedor da China. O governador Camilo Santana (PT) informou que o primeiro lote com 200 equipamentos deve ser recebido ainda nesta semana.
A Bahia, que chegou a ter carga de 300 respiradores confiscada nos EUA, aguarda 500 novos para ampliar a rede de atendimento. O hospital de campanha no estádio Fonte Nova, por exemplo, deve ter as obras concluídas na segunda (11), mas não poderá funcionar sem os equipamentos.
Ao todo, os Estados abriram pelo menos 980 leitos de UTI na última semana para casos de covid-19. Na maioria, contudo, foram adotadas estratégias como o remanejamento de vagas dentro da própria rede hospitalar e a incorporação de leitos privados.
Outras regiões já começam a preocupar, com ocupação acima de 60%, como Rio Grande do Sul e Espírito Santo. Minas Gerais informou taxa de 64%, mas não faz separação dos leitos comuns e dos leitos destinados a pacientes com o vírus.
A Bahia tem 58% dos leitos de UTI ocupados, porém em Salvador a estimativa é que as UTIs fiquem lotadas em dez dias, caso não haja expansão da rede de atendimento.
Nos demais Estados, a ocupação está abaixo de 50%, mas houve rápido crescimento do número de pacientes graves comparado à semana passada.
No Paraná, que nos últimos dias atingiu a marca de 1,5 mil casos e 99 mortes, a taxa de ocupação passou de 15% para 29% em uma semana. Já Tocantins viu salto de 10% para 31% no mesmo período — o Estado tem 10 dos 32 leitos de terapia intensiva ocupados, com a possibilidade de acréscimo de 72 vagas.
Estados do Centro-Oeste têm um cenário mais tranquilo. Em Goiás a ocupação dos leitos de UTI praticamente se manteve na última semana: das 45 vagas disponíveis no hospital de campanha em Goiânia e no Hospital de Urgências em Anápolis, 19 estavam preenchidas na segunda, ante 18 na semana anterior.
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul também permanecem em situação mais confortável. O primeiro avançou de 14 vagas para 98 em uma semana, e o segundo só tem 2 das 152 UTIs públicas para covid ocupadas.