Da Segunda Guerra Mundial, a italiana Giuseppina Nerozzi de Souza, 94 anos, guarda memórias e uma família. Voluntária da Cruz Vermelha, a enfermeira nascida em Pistoia, uma cidade na região da Toscana, atendeu a soldados na Alemanha, na Áustria e na Hungria. Logo após o conflito, conheceu o militar brasileiro com quem se casou, teve dois filhos e veio morar no Brasil, em 1950.
Na guerra contra o novo coronavírus no Brasil, Giusepinna manteve-se em casa, onde mora com a filha Millena, 43 anos, na zona norte do Rio de Janeiro, para se proteger. Não foi o suficiente. Ela contraiu a covid-19 e ficou 10 dias internada no Hospital Universitário do Fundão.
— Fiquei muito preocupada quando ela foi internada. Ela é muito lúcida e ativa. Mas é uma senhora de 94 com comorbidade. Ela tem bronquiectasia (espécie de inflamação nos brônquios), pois foi fumante por muito tempo — disse a filha.
A italiana não saía de casa desde quando o governador Wilson Witzel determinou o isolamento social, em 16 de março. Apenas a filha saía diariamente para trabalhar e retornava para casa, o que deixou de ocorrer há duas semanas, quando entrou em férias por também fazer parte do grupo de risco, já que é hipertensa.
— Eu tomava todos os cuidados que eram ditos: lavar as mãos, deixar o sapato fora de casa. Mas mesmo as orientações foram mudando. Só depois soube que não podia entrar com a roupa da rua em casa. Mas nem penso em como ela se contaminou para não quebrar a cabeça — afirmou Millena, que disse não ter apresentado sintomas da doença.
A enfermeira aposentada sentiu os primeiros sintomas no fim de março. Foi ao médico, que lhe ministrou alguns medicamentos e recomendou atenção. A piora do quadro fez com que ela fosse levada ao Hospital do Fundão, onde ficou internada por 10 dias.
— Ela tinha muita fé e é muito destemida. Ela tinha confiança, mas ao mesmo tempo tinha receio — contou a filha.
Giusepinna foi internada com um quadro clínico de pneumonia. O teste confirmou dias depois se tratar da covid-19, causada pelo coronavírus. Nos primeiros dias, pôde ter a companhia da filha. Mas o quadro se agravou e teve de ser transferida para a UTI. Ela não precisou ser intubada, mas sofreu um infarto no hospital. Depois da fase mais grave, a italiana teve uma melhora no quadro até quarta (8), quando teve alta. Ela deixou o Fundão de cadeira de rodas sob aplausos da equipe de médicos.
— Ver a paciente sair daqui curada, sob aplausos, nos encoraja a enfrentar o que ainda está por vir — disse o diretor-geral, Marcos Freire.
A filha conta que Giusepinna ainda está debilitada, mas apresenta melhoras desde que deixou o hospital. Na tarde desta sexta-feira, almoçou uma sopa.
— Ela superou muitas coisas: uma guerra, a perda de um filho. Essa foi mais uma superação — salientou Mirella.