SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com UTIs públicas próximas de sua capacidade máxima ou já lotadas com pacientes da Covid-19 --como a do Instituto Emílio Ribas-- São Paulo tem prédios total ou parcialmente ociosos que já abrigaram hospitais, além de uma unidade ainda não completamente utilizada.
No caso de um deles, o do antigo Sorocabana, na Lapa, zona oeste da cidade, essa situação reforçou a pressão sobre o poder público para que seja reaberto.
A pandemia do novo coronavírus, que já causou 4.016 mortes e teve mais de 58 mil casos registrados no país, obrigou a prefeitura e o estado a abrirem hospitais de campanha no Pacaembu e no Anhembi.
Na Lapa, o antigo Hospital Sorocabana, fechado desde 2011, abriga hoje uma AMA, um Hospital Dia e um Centro Especializado de Reabilitação (CER). São dois andares ocupados e outros cinco completamente ociosos.
Em 2018, o prédio chegou a ser vendido em leilão do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) para que dívidas trabalhistas fossem pagas. A venda, porém, acabou anulada, pois o estado, que detém parte do terreno, não foi notificado na ocasião.
Ao menos desde 2019, movimentos sociais se uniram para formar um coletivo que luta pela reabertura do hospital. Um imbróglio jurídico, no entanto, impede que ele seja reativado.
Em 2016, no final da gestão Fernando Haddad (PT), o prédio que pertencia ao estado, foi cedido à prefeitura por 20 anos. Desde então, apenas os três serviços municipais de saúde foram instalados no local.
"É uma luta que vem de longe. A reabertura foi pauta de campanha desde o [ex-prefeito] Gilberto Kassab", diz Márcia Crespo, integrante do Comitê pela Reabertura do Sorocabana e do coletivo Pompeia Sem Medo. "Falta vontade política."
Desde que foi fechado, diz Márcia, o local já foi set de filmagens, entrou na mira de empresários para se tornar um shopping e para abrigar um hospital privado. Nada disso prosperou. "Queremos que seja reaberto e público", afirma.
No final de 2019, uma audiência pública realizada na Lapa parecia selar o destino do Sorocabana. De acordo com a codeputada estadual Raquel Marques, da Bancada Ativista, do PSOL, a hora para reativar o hospital é agora. "Consigo entender a construção dos hospitais de campanha, mas a crise da Covid -19 pode durar até dois anos [de forma intermitente]."
Alguns problemas, no entanto, pesam contra essa possibilidade. A posse definitiva do terreno é uma delas.
Na audiência pública, de acordo com pessoas ouvidas pela Folha, a Secretaria de Estado da Saúde enviou representante --a secretaria municipal não fez o mesmo-- que acenou com a possibilidade de uma troca entre município e estado com os terrenos do Dante Pazanezzi e do Sorocabana.
Para Rubens Pinheiro, conselheiro de Saúde representante da zona oeste no conselho municipal, a reabertura do Sorocabana é, de fato, uma necessidade. No entanto, ele afirma que as condições do prédio do hospital não possibilitariam que ele fosse aberto agora para atender os casos de Covid-19.
"Não tenho a menor dúvida que precisa ser reaberto. Participei de duas visitas ao local, mas é preciso fazer uma vistoria técnica, com laudo, para saber o que é preciso para recuperar o hospital", diz Rubens, um dos fundadores do comitê pela reabertura.
O Sorocabana não foi o único hospital fechado nessa região da cidade. Outros, privados, como o Panamericano e o Itatiaia, também fecharam as portas nos últimos anos. Fazer do Sorocabana um hospital de referência seria o ideal para uma população de cerca de 340 mil habitantes dos bairros da região, afirma o conselheiro.
"Antes disso, temos uma questão: a quem pertence esse hospital?", diz referindo-se à insegurança jurídica do município para reabri-lo.
Segundo ele, em uma reunião com a prefeitura foi apresentado um possível plano de investimento na recuperação do prédio e aparelhamento dos leitos. Isso seria feito com parte de uma verba de R$ 200 milhões a serem emprestados pelo BID. "Mas para isso é preciso ter um plano de recuperação, saber o que precisa ser feito", diz.
A cerca de 7 km dali, na Brasilândia, zona norte, o distrito paulistano com o maior número de mortos pela Covid-19, 280 leitos devem ser direcionados para pacientes infectados pelo novo coronavírus, de acordo com a prefeitura, no hospital da Brasilândia, inaugurado parcialmente em março.
"[O hospital] ficou dois anos parado, mas é uma demanda da população de mais de 20 anos", diz a ex-conselheira municipal de Saúde, Maria Cícera Salles.
Segundo ela, "a população da Brasilândia ainda não se deu conta" da gravidade da pandemia e continua nas ruas como se nada estivesse acontecendo. "Outro problema é a característica da região, com casas muito próximas umas das outras. É tudo muito adensado", diz.
A prefeitura afirma que a área onde se localiza o hospital Sorocabana pertence ao estado, e que a permuta com a área municipal onde fica o Instituto Dante Pazzanese "chegou a ser cogitada, mas por questões jurídicas que envolvem o antigo hospital Sorocabana, a transação foi considerada inviável".
De acordo com a administração Bruno Covas (PSDB), os investimentos naquele local ficaram inviabilizados.
Sobre o Hospital Municipal da Brasilândia, a prefeitura afirma que "está prevista para maio a abertura do hospital, com 150 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), para tratamento de pacientes atingidos pelo coronavírus na capital".
Na unidade, também serão instalados 30 leitos de enfermaria exclusivamente para o tratamento de pacientes de Covid-19. "Assim que estiver totalmente concluída, a unidade da Brasilândia será um hospital e maternidade com 305 leitos, e beneficiará 2,2 milhões de pessoas da região", diz em nota.