Dois funcionários da Santa Casa de Caridade de Bagé disseram à Polícia Civil que o engenheiro-agrônomo Clovis Garrastazu Xavier, 66 anos, admitiu ter ferido a si próprio com uma facada no abdômen antes de dar entrada no hospital. Xavier morreu 14 horas após a internação, em 13 de novembro. Um inquérito foi instaurado para descobrir por que a morte não foi comunicada à polícia e o atestado de óbito, declarando infarto como causa mortis, foi assinado por um médico que não pertence aos quadros da Santa Casa.
Os depoimentos de um enfermeiro e um médico que atenderam Xavier foram tomados na última terça-feira (3) pela delegada Gabrielle Zanini. Ambos disseram que Xavier chegou lúcido e contando ter tentado suicídio, por volta das 14h de 12 de novembro. A versão deles corrobora a versão da mulher e da filha de Xavier, segundo as quais ele teria tentado se matar enquanto estava sozinho em casa.
Conforme a delegada, Xavier era destro e teria dado o golpe no lado direito do abdômen. Os agentes cumpriram mandado de busca e apreensão na residência dele, mas não localizaram a faca usada na suposta tentativa de suicídio.
Registros em posse da polícia demonstram que Xavier recebeu o primeiro atendimento ainda em casa. Uma equipe do Samu aplicou um curativo compressivo no ferimento e levou o ruralista para o Pronto- Socorro. Xavier foi submetido a exames e internado, mas acabou morrendo pouco depois das 4h20min do dia seguinte. Embora tenha passado por pelo menos cinco médicos do hospital, o atestado de óbito foi assinado por um psiquiatra que atende a família.
Engenheiro-agrônomo e sobrinho-neto do general Emílio Garrastazu Médici, presidente da República no regime militar, Xavier pertence a uma família tradicional de Bagé. A morte causou comoção no município.
Embora a família tenha jazigo próprio no cemitério da Santa Casa, Xavier foi sepultado em um outro cemitério, inaugurado há quatro meses, sem realização de velório nem publicação de aviso fúnebre. Ao abrirem o caixão durante a exumação, os peritos depararam com o cadáver com o torso despido e vestindo apenas a calça do pijama, enrolado em um lençol.
O caso é tratado como morte suspeita pela polícia. De acordo com a delegada, a investigação busca esclarecer em primeiro lugar a causa do óbito. Gabrielle também quer saber por que o hospital não comunicou à polícia a entrada de um paciente com ferimento a faca, tampouco sua morte posterior, como determina a lei.
Por nota, a Santa Casa declarou que o caso está sendo analisado internamente e que todos os procedimentos efetuados no paciente estão à disposição da polícia.
O ruralista era casado com a agrônoma Maria Regina Goulart Garrastazu Xavier, coordenadora de um posto de saúde municipal e recém-eleita vereadora com 1.272 votos. Procurada por Zero Hora, Regina não quis se manifestar.