A Polícia Civil investiga as circunstâncias da morte de um produtor rural em Bagé, na Campanha. Clóvis Garrastazu Xavier, 66 anos, morreu em 13 de novembro, após dar entrada com ferimento à faca no pronto-socorro do município. Todavia, de acordo com a polícia, não foi registrado boletim de ocorrência, e o atestado de óbito, declarando infarto como causa da morte, foi assinado por um médico de fora do hospital.
A pedido da delegada Gabrielle Zanini, titular da 1º Delegacia da Polícia Civil de Bagé, a Justiça autorizou a exumação do corpo e uma autópsia foi realizada na última quinta-feira (28). Ao abrirem o caixão, os peritos encontraram o cadáver com o torso despido, vestindo pijama na parte de baixo e enrolado em um lençol. O laudo oficial da perícia tem 30 dias para ser concluído.
De acordo com a investigação, uma ambulância do Samu foi chamada à casa de Xavier por volta das 14h de 12 de novembro. O registro de atendimento aponta um ferimento à faca na região do abdômen, sobre o qual foi feito um curativo compressivo. Na sequência, Xavier foi levado ao pronto-socorro, onde faleceu pouco depois das 4h do dia seguinte.
— Muitas coisas estranhas aconteceram desde a hora que ele saiu de casa até a morte, inclusive no hospital — afirma a delegada Gabrielle.
Engenheiro-agrônomo e sobrinho-neto do general Emílio Garrastazu Médici, presidente da República no regime militar, Xavier pertence a uma família tradicional de Bagé. A morte causou comoção no município. O corpo foi sepultado no mesmo dia da morte, sem realização de velório nem publicação de aviso fúnebre. O atestado de óbito foi assinado por um psiquiatra que era médico particular da família.
O ruralista era casado com a agrônoma Maria Regina Goulart Garrastazu Xavier, coordenadora de um posto de saúde municipal e recém-eleita vereadora com 1.272 votos. Em depoimento à polícia, ela e a filha do casal disseram que Xavier teria tentado se suicidar com uma faca enquanto estava sozinho em casa.
Ao cumprir mandado de busca e apreensão na residência da família, os investigadores apreenderam gravações de câmeras de vigilância, mas não encontraram a faca que teria sido usada na suposta tentativa de suicídio. Procurada por Zero Hora, Regina não quis se manifestar.
— A família ainda está de luto e aguarda o resultado da exumação, o qual se espera que confirme o declarado no atestado de óbito — afirma o advogado de Regina, Carlos Eduardo Pinto Lamego.
Por enquanto, o caso é tratado como morte suspeita pela polícia. De acordo com a delegada, a investigação busca esclarecer em primeiro lugar a causa do óbito. Gabrielle também quer saber por que o hospital não comunicou à polícia a entrada de um paciente com ferimento à faca, como determina a lei.
Questionada sobre o motivo de não ter havido comunicado às forças de segurança e de a declaração de óbito com a causa da morte ser assinada por um médico que não pertence aos quadros da instituição, a diretoria da Santa Casa informou que o caso está sendo analisando internamente e que todos os procedimentos efetuados no paciente estão à disposição da Justiça e da polícia.
Até esta terça-feira (3), já haviam sido ouvidos a família, o diretor do cemitério onde o corpo foi sepultado e socorristas do Samu. Ainda hoje, prestam depoimento um enfermeiro e um médico do hospital.