Nove municípios gaúchos já enviaram documentação à Defesa Civil informando que decretaram situação de emergência devido ao tempo seco e à pouca chuva registrada desde o final de 2019 no Estado. A iniciativa das prefeituras visa a facilitar o recebimento de recursos e também amenizar os problemas dos agricultores, ajudando também a renegociação de dívidas.
As cidades que decretaram emergência são: Chuvisca, Camaquã e Cerro Grande do Sul (Sul), Pantano Grande, Sinimbu e Venâncio Aires (Vale do Rio Pardo), Boqueirão do Leão (Vale do Taquari), Maquiné (Litoral Norte) e Mariana Pimentel (Centro-Sul). Ainda falta o reconhecimento da situação pelo Estado e a homologação, parte que costuma demorar mais no processo e que depende do governo federal.
Há informações de outras cidades que também já decretaram situação de emergência, mas a documentação ainda não consta na contagem da Defesa Civil.
O prefeito de Camaquã, Ivo Ferreira de Lima (PSDB), afirma que um cálculo feito pela Emater estima prejuízo superior a R$ 70 milhões nas lavouras do município, especialmente no tabaco, milho, soja e feijão. Não entra na conta aquilo que está plantado e não irá se desenvolver devido à pouca água.
Além das perdas no campo, o prefeito também projeta um resfriamento no comércio da cidade, já que haverá menos dinheiro circulando. Para Lima, o decreto é a forma mais rápida encontrada para auxiliar os produtores:
— Vamos pleitear a prorrogação da dívida dos agricultores. Muitos estão endividados e, sem o decreto, não teriam como acertar as dívidas e seguir o trabalho. Vamos ver se conseguimos, também, algum recurso.
Na área rural de Camaquã, poços artesianos secaram e as comunidades estão desabastecidas, obrigando moradores a buscar água em áreas distantes. Situação semelhante é registrada em Cerro Grande do Sul, onde reservatórios estão sendo levados pelas autoridades até áreas afastadas.
Em Venâncio Aires, a prefeitura trabalha com uma estimativa de mais de R$ 40 milhões em prejuízos, sendo a maior parte no tabaco.
O coordenador da Defesa Civil do RS, coronel Julio Cesar Rocha Lopes, declara que o órgão está em alerta e em contato com prefeituras para auxiliar. Já foram emprestados 22 reservatórios de água móveis para distribuir em comunidades que estão com os poços secos. Cada um deles tem 3,5 mil litros.
— Hoje pela manhã (terça-feira), houve reunião com outras secretarias para ver como podemos auxiliar os demais municípios nessa estiagem que vem assolando nosso Estado. Atuamos de uma forma mais preventiva, de orientação, diferente do que ocorre em enchentes. Cada município está sendo afetado de maneira diferente, alguns na lavoura, outros sem água — explicou.
Estiagem mais severa desde 2012
O secretário Estadual da Agricultura em exercício, Luiz Fernando Rodriguez Júnior, classificou, na segunda-feira (6), a estiagem como a mais grave desde a safra 2011-2012. Ele também anunciou a formação de um grupo para acompanhar os desdobramentos da seca. Dados consolidados devem ser apresentados até o fim da semana.
A Associação dos Produtores de Soja do Estado também considera que a colheita recorde superior a 19 milhões de toneladas não irá se confirmar por causa da aridez do solo.
Confira a situação dos demais municípios que decretaram situação de emergência
Chuvisca
No município que tem 95% de seu território na área rural, a estiagem compromete lavouras em época de colheita. Segundo a prefeitura, estima-se perda de 50% no milho, 45% no feijão e 35% no fumo, o que representa um prejuízo de R$ 18,5 milhões na agricultura. Para minimizar o impacto, a administração pública tem aberto poços e cacimbas no interior do município.
Pantano Grande
O município projeta perdas de R$ 46 milhões na agricultura e de R$ 2,3 milhões na pecuária devido à escassez de chuva. De acordo com a prefeitura, a estiagem deverá comprometer 80% do milho e do feijão, 70% das hortaliças, 60% da fruticultura (pecan e morango), 45% da soja, 40% do leite e 20% do arroz. Também é estimada a perda de 312 toneladas de gado de corte.
Sinimbu
Sem chuva desde o final de novembro, Sinimbu também contabiliza impacto no campo. O município projeta quebra de 70% nas culturas de grãos (feijão, soja e milho), 40% no fumo e 30% no leite. A prefeitura tem abastecido propriedades com um caminhão de água para os animais e bombonas para o consumo das famílias. Cinco retroescavadeiras têm sido usadas para abertura de poços.
Maquiné
Somando 45 dias praticamente sem chuva, Maquiné estava com os arroios e rios secos, comprometendo as lavouras de milho. O clima seco deu uma trégua entre 31 de dezembro e 3 de janeiro, quando choveu no município.
Mariana Pimentel
Há três principais culturas afetadas no município da região Centro-Sul. A batata-doce, cultura mais forte da região, teve 30% de perda no total. O milho teve 70% e o fumo, 40%. O prejuízo estimado, conforme a Secretaria Municipal da Agricultura, é de R$ 14 milhões. Outro problema que preocupa é que a falta de água já é sentida por criadores de animais. Como algumas comunidades não tem abastecimento público e dependem de poços, a falta d'água começa também a atingir as residências.
Boqueirão do Leão
Conforme a prefeitura, o prejuízo deve ultrapassar o valor do orçamento do município, que é de R$ 24 milhões. Fumo e milho foram as principais culturas afetadas, mas o impacto também é visto na soja e no leite.
A prefeitura havia decretado situação de emergência em outubro, por causa do excesso de chuva na região. Agora, a escassez faz com que a gestão utilize um caminhão para levar água a comunidades no interior do município.