Depois de atingir 22,3 metros na noite passada — 9,7 metros acima do regular —, o nível do Rio Taquari começou a baixar em Lajeado, no Vale do Taquari, interrompendo a sequência de elevações. Apesar do recuo, casas e ruas seguem alagadas no centro da cidade. No Parque Professor Theobaldo Dick, o principal da cidade, campos de futebol e quadras de skate e basquete estão submersos. A medição das 9h desta quarta-feira (6) indica redução de um metro.
— É uma redução gradual, mas ainda vai levar um tempo até termos condições de devolver as famílias a suas residências — afirma o coordenador da defesa civil municipal, Heitor Luiz Hoppe.
Vias que cruzam o local de lazer têm apenas parte das placas de identificação descobertas. Sinais de trânsito, um quiosque e um letreiro de oito metros de comprimento, com letras de 1,30 metro de altura cada, estão apenas com as pontas visíveis. O ponto turístico forma o nome do município, com a letra "o" substituída por um coração.
Ao lado do parque tomado pelas águas, o Centro Lenira Maria Müller Klein, que atende 200 crianças em fase de alfabetização e adolescentes carentes teve seu pátio a poucos centímetros de ser atingido, após a cheia cobrir boa parte de um dos muros da escola. Em 2016, a mesma região teve uma cheia ainda maior, como relembra o sargento Daniel Borges, do corpo de bombeiros do município:
— Há três anos, tivemos de remover 11 pessoas do entorno do parque. Desta vez, o trabalho da Defesa Civil foi perfeito, ao retirá-las de casa antes de alagar.
Os bombeiros navegaram sobre o rio que se formou na praça. A medição por meio dos remos do bote apontou para 1,5 metro de profundidade. Na Avenida Décio Martins, que corta uma das partes mais baixas da cidade, um veículo tem apenas o teto visível.
Seguem fora de casa ao menos cem pessoas, de acordo com a Defesa Civil. São 88 moradores em um ginásio do Parque do Imigrante, além de famílias alojadas em residências de amigos e parentes. O número de residentes que buscou ajuda ainda não foi totalizado.
Se a redução nos alagamentos continuar — há sol e céu limpo desde o início desta quarta-feira no Vale do Taquari — os moradores poderão realizar a limpeza do barro e dos resíduos nos locais atingidos. A Defesa Civil entregará ranchos com alimentos, além de kits de higiene e limpeza.
— A gente saiu antes de a água entrar, mas já tava cercando o pátio — relembra Diego Zorzi, 17 anos, com dois filhotes de gato nos braços.
No ginásio, além das duas ninhadas de felinos recém nascidos, há cães das famílias abrigadas. A família Azevedo tem no local cinco gerações.
— Meus tataranetos, bisnetos, netos e filhas. Todos fomos atingidos. É sempre assim. Eu nem compro mais guarda-roupa, só os pequenos que eu posso carregar — conta a matriarca Generosa de Azevedo, 91 anos.