O nível do Rio Caí, em São Sebastião do Caí, começou a estabilizar na tarde desta terça-feira (5) com a redução da chuva nas partes mais altas da Serra. A estimativa é que a água suba em ritmo lento até as 22h e, depois, comece a reduzir até retornar ao leito normal.
No entanto, há ainda 18 famílias foram de suas residências no município. Elas foram levadas para um abrigo. Muitos moradores, mesmo com as casas atingidas pelas águas, optaram por permanecer nas residências por medo de que seus pertences fossem furtados.
Ao todo, a cheia do Caí afetou cerca de 350 residências. A água chegou a cobrir o andar térreo de casas mais próximas ao rio.
Remando um pequeno barco que usa para pescar nas águas do Rio Caí, o pescador Alexandre Propício Flores diz estar acostumado com a situação:
— Só perde tudo quem quer. Todo ano é assim, o rio sobe lá em Feliz e começamos a subir as coisas aqui — descreveu.
Ele enumera as enchentes que enfrentou em São Sebastião do Caí nos últimos 51 anos. Apontando para as casas, indica as adaptações feitas para amenizar os transtornos causados pela água. Nas quadras mais próximas do rio, os imóveis são construídos com garagem embaixo. A maioria, guarda barcos (ou caícos, como são chamados).
Apesar de cobrir o primeiro andar das casas, a enchente, segundo os moradores, não chega perto daquelas que mais causaram prejuízos.
— Pode ver que tem duas marcas (na parede). A de cima foi a de 2011. A de baixo foi em 2000. Na de 2011, entrou 46 centímetros de água na minha casa relatou — Valdecir Luiz da Cruz, que mora há 47 anos em uma casa elevada na Rua Pinheiro Machado.
De acordo com o último balanço da Defesa Civil, divulgado no fim da tarde desta terça, o número de pessoas fora de casa no Rio Grande do Sul aumentou para 560. São 315 moradores desabrigados (levadas a abrigos públicos) e outros 245 desalojados (acomodados em casas de familiares e amigos). Dos municípios gaúchos, 15 já decretaram situação de emergência por causa de estragos causados pelas chuvas.
Nível do rio chegou a 12 metros
As enchentes, que costumam ocorrer entre setembro e novembro, fizeram com que réguas fossem colocadas nas ruas para indicar o nível da água. Normalmente, o nível do rio é cerca de dois metros, mas a água começa a sair quando chega a 10 metros. Na tarde desta terça, estava em 12 metros, mas a previsão era de que começasse a descer.
Aqueles que costumam ser atingidos pela enchente formaram uma rede paralela de comunicação com moradores de Feliz, Bom Princípio e Vale Real. Enquanto conversava com GaúchaZH, o telefone de Flores tocou. Era um pescador de Feliz avisando que o nível do rio estava caindo por lá.
— Então não deve passar dos 13 metros — comemorou.
"É uma vida inteira escapando da água"
Em uma zona próxima, as casas não são adaptadas. Muitas foram acordadas por volta das 7h com a chegada da Defesa Civil para prestar auxílio. Desde então, 18 famílias foram levadas para um abrigo com o que conseguiram tirar de casa.
— Tirei o básico e agradeço a Deus por a gente estar aqui, a salvo. O pessoal (da Defesa Civil) graças a Deus está me tratando muito bem — conta Maria Dolores Soares, 65 anos.
— É uma vida inteira escapando da água — completa.
No mesmo ginásio, em uma cabana improvisada com lençóis e cobertores, a desempregada Carina Adriana, de 20 anos diz que foi surpreendia pela água.
— Acordei e o caminhão já tava pra tirar as coisas. Eu não tinha nem ensacado nada. Saí correndo e até deixei armário, sofá, cama e o berço da minha filha — conta.