Um incêndio de grandes proporções atingiu o hospital Badim, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, e fez pacientes serem retirados às pressas no início da noite desta quinta (12). Até o momento, foram confirmadas 10 mortes.
A diretora de perícia do IML, Gabriela Graça, disse que a maioria das vítimas morreu por inalação de fumaça, e algumas em função do desligamento de aparelhos. Diferente de informação divulgada pelo prefeito Marcelo Crivella na manhã desta sexta, o Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro confirmou que removeu 10 corpos, e não 11.
A subsecretária de gestão administrativa da Polícia Civil, Gisele de Lima Pereira, informou que os dez corpos que deram entrada no IML foram identificados:
- Maria Alice Teixeira da Costa, 75
- Luzia dos Santos Melo, 88
- Virgílio Claudino da Silva, 66
- Ana Almeida do Nascimento, 95
- Irene Freitas, 83
- Berta Gonçalves Berreiro Sousa, 93
- Marlene Menezes Fraga, 85
- Darcy da Rocha Dias, 88
- Alayde Henrique Barbieri, 96
- José Costa Andrade, 76
O hospital é privado e faz parte da rede D'Or São Luiz. Havia 103 pacientes e 226 funcionários no local quando o incêndio começou. O Corpo de Bombeiros foi acionado às 17h50min e enviou no total 12 viaturas e agentes de quatro quartéis ao edifício, que foi tomado por uma fumaça preta e espessa, como mostram imagens gravadas por quem passava pela região.
Por volta das 10h30min desta sexta (13), os bombeiros ainda trabalhavam no rescaldo do incêndio. Pessoas internadas nos centros de terapia intensiva (CTI), muitas delas idosas e em estado grave, foram retiradas ainda nas macas. Com colchões e lençóis, funcionários improvisaram leitos em ruas próximas, que foram bloqueadas.
"Todos os pacientes do CTI 1 já foram retirados e estão recebendo os primeiros atendimentos na rua Arthur Menezes. Nesse momento, os pacientes do CTI 2, que tem 20 leitos, também estão sendo retirados", afirmou a direção da unidade por volta das 20h nas redes sociais.
Eles estão sendo levados para hospitais públicos e privados da região.
"Toda a direção do hospital Badim está empenhada em prestar os devidos socorros necessários aos pacientes, que estão sendo transferidos para o hospital Israelita Albert Sabin e para os hospitais da Rede D'Or, do qual o Badim é associado", informou a direção
A Secretaria de Estado de Saúde disse que enviou 15 ambulâncias para auxiliar nessa retirada, dos hospitais Getúlio Vargas, Carlos Chagas, Adão Pereira Nunes e de UPAs — e que disponibilizou leitos em unidades do Estado. Antes de ser transferida, parte dos pacientes foi estabilizada no Instituto de Assistência dos Servidores do RJ (Iaserj), que fica a poucos metros.
Investigação
Segundo a direção do hospital, ao que tudo indica, o incêndio foi provocado por um curto-circuito em um gerador no subsolo do prédio mais antigo do Badim, que tem dois edifícios, um inaugurado em 2000 e o outro, em 2018. A fumaça do incêndio subiu para todos os andares. O prédio abriga leitos e um CTI.
O hospital faz parte da rede D'Or São Luiz. Havia 103 pacientes e 226 funcionários no local quando o incêndio começou. O Corpo de Bombeiros foi acionado às 17h50 e enviou no total 12 viaturas e agentes de quatro quartéis ao edifício, que foi tomado por uma fumaça preta e espessa.
O inquérito para investigar o incêndio está sendo conduzido pela 18ª delegacia de polícia. O delegado Roberto Ramos afirmou que os peritos da Polícia Civil continuam com dificuldades para realizar a perícia em função da água que restou no prédio após o trabalho dos bombeiros. A polícia está garantindo que a energia elétrica está desativada para evitar acidentes.
O delegado também disse que brigadistas e pessoas que estavam no hospital nesta quinta-feira já foram chamados para prestar depoimento nesta sexta. Um perito da Polícia Civil deixou o prédio com um aparelho que, segundo ele, contém as imagens das câmeras do hospital. O Corpo de Bombeiros diz que o Badim tinha o Certificado de Aprovação, que comprova o cumprimento da legislação contra incêndio e pânico. A prefeitura também diz que o local possui alvará de funcionamento.
Técnicos da vigilância sanitária inspecionaram o hospital Badim em julho deste ano. De acordo com o órgão, foram identificadas necessidades de adequação em nove áreas do local. Porém, nada que impedisse o funcionamento do estabelecimento.
— O processo de licenciamento sanitário do estabelecimento está em andamento, aguardando essas adequações (dentro do prazo concedido para serem realizadas) e nova inspeção — disse a vigilância sanitária.
A representante comercial Renata Schmid, 40, teve sua casa, vizinha ao hospital, parcialmente interditada por risco de curto circuito. A reportagem entrou na residência, que fica em uma vila. O ambiente da cozinha estava muito quente, vidros da sala se quebraram, o reboco da parede caiu e havia rachaduras na parede. O cheiro de queimado também era forte.
Na quinta-feira (12), a Defesa Civil orientou que Renata deixasse a casa por precaução. Os demais moradores da vila também. decidiram dormir em outros locais. Uma mulher que mora em uma das casas inalou muita fumaça e acabou internada.
Relatos
Os corpos encaminhados ao IML foram periciados e identificados por papiloscopistas, por meio das impressões digitais, e uma equipe especializada em atendimento de tragédias em massa presta atendimento psicológico aos familiares. Consternado, Emanuel Melo, filho da vítima Luzia, disse que acompanhou a mãe junto com a equipe do hospital.
— Procurei tranquilizar minha mãe. Arrumei a maca e colocamos ela pra ela sair. Eu só falava "mãe, por favor, não tira essa máscara (de oxigênio)". Disse "mãe, não fala nada, deixa pra falar depois". E agora não vou mais poder falar com ela — conta Emanuel.
O carioca afirma que houve negligência do hospital, truculência do Corpo de Bombeiros e que a morte poderia ter sido evitada.
— Foi um assassinato. Só faleceram os que estavam no G1 e no primeiro andar, os idosos, que deveriam ser prioridade — afirma.
Luzia era maranhense e morava há décadas em Cascadura, na zona norte do Rio. Estava internada para tratar uma pneumonia. Seu sepultamento será neste sábado (14), no cemitério São Francisco Xavier, na Tijuca.
Emanuel afirma que houve uma queda de luz, quando ele e outros presentes no CTI perceberam fumaça por volta de 17h15min e alertaram a equipe do hospital. Foram informados que se tratava de manutenção interna.
— Aí, quando houve a explosão, a fumaça tomou conta de tudo, era um cheiro insuportável — lembra.
Do lado de fora do hospital Badim, o advogado Carlos Oterelo diz que acompanhava a mãe, Berta de Souza, 93, internada para se tratar de uma pneumonia, quando sentiu o cheiro de fumaça. Com a confirmação do fogo, ele relata que tentou resgatar a mãe com os próprios braços, mas não conseguiu.
— A maca é pesada, não tinha mobilidade para fazer isso e não tinha gente, estava sem luz. Então ficou muito difícil. Os bombeiros mandaram as pessoas sem enfermidade saírem. Porque senão o problema seria muito maior — disse à reportagem do UOL.
— Eu tirei minha mãe do box onde ela estava e, quando chegou na escada corta-fogo, tinham muitas pessoas correndo. Funcionários, pacientes que não estavam com dificuldades de se locomover estavam sendo ajudados a descer — afirmou.
Agora, ele, assim como outras dezenas de familiares de pacientes que estavam internados, cobra informações sobre o estado de saúde e a localização da mãe.
— O Badim disse que iria fazer uma lista para onde os pacientes foram e que iriam colocar na mídia — afirma.