Um homem de 51 anos está em greve de fome desde terça-feira (4) em Palmares do Sul. Conforme a prefeitura do município, Paulo Pachá é conhecido na comunidade por seus trabalhos solidários. Segundo ele, há 20 anos um de seus projetos distribui sopão solidário todas as quintas-feiras para pessoas carentes. Nesta semana, ele percebeu que a escassez de recursos podia acabar com a ação.
Em uma barraca improvisada, Pachá está acampado em um local específico: na rua que reúne, lado a lado, as sedes da prefeitura, Câmara de Vereadores e fórum do município. Ali, ele está sem comer há dois dias, e só toma água.
O projeto de Pachá é desenvolvido em Quintão — distrito de Palmares — com a ajuda de outros 25 voluntários. Segundo ele, 700 litros de sopa são distribuídos a cerca de 600 pessoas uma vez por semana — o trabalho não conta com dinheiro público. Nos últimos dias, as doações ficaram menos frequentes:
— Eu estou vendo que (o projeto) vai acabar essa semana. Não tenho mais o que fazer. Profissionalmente estou em uma situação difícil, não entra trabalho. Não sei de onde tirar dinheiro para conseguir fazer os projetos — afirma.
A ideia é "conscientizar a sociedade", segundo ele. Desde que começou a greve, Pachá conta que duas pessoas se comprometeram a doar um valor fixo ao projeto — uma senhora se comprometeu com R$ 90 e um senhor com R$ 50. O prefeito, dois possíveis candidatos ao Executivo nas próximas eleições e um vereador conversaram com Pachá, mas ninguém tenta demovê-lo da ideia da greve de fome, porque "sabem que não vão conseguir", afirma.
— Não estou fazendo nada mais que a minha obrigação. Eu lido com pessoas que tem fome, que não tem como alimentar os filhos, não é fácil, mas elas sobrevivem. Por que eu não iria conseguir? — argumenta, e diz que teve total apoio da família. — Um pouco de cada um e tudo se resolveria. É isso que eu quero mostrar.
Por incrível que pareça, Pachá mantém o bom humor:
— Bom, eu estou com fome, mas estou bem — diverte-se. — Tive uma tontura ontem, mas o interessante é o mal-estar que sinto quando percebo cheiro de comida no ar, chega a salivar a boca.
Além do sopão, distribuído em um salão cedido por uma associação comunitária, Pachá também oferece conversas e palestras com os que precisam de "alimento para a alma".
— É um lugar neutro, para não fazer as pessoas pensarem que precisam seguir uma religião específica. Mas incentivo que busquem o deus que acreditam, seja qual for.
Nas noites, o frio é amenizado com "um bom cobertor" e algumas lonas colocadas em cima da barraca. O plano é permanecer no local por 15 dias. Ele diz que está "psicologicamente preparado", mas não sabe dizer se está "fisicamente" também.