Pedaços do talude (encosta que garante estabilidade) norte da barragem da mina Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG) caíram na madrugada desta sexta-feira (31), segundo informações da mineradora Vale — responsável por administrar a estrutura. Os blocos se acomodaram no fundo da cava (jargão técnico para o "buraco" da barragem). Segundo a mineradora, avaliações mostram que o material está tendo deslizamento gradual.
Há semanas, os moradores da cidade mineira — localizada a 100 km de distância da capital Belo Horizonte — vivem na iminência de uma queda do talude. Isso poderia provocar vibrações no solo e servir de gatilho para o rompimento da barragem de rejeitos Sul Superior.
Localizada a 1,5 km de distância da cava da mina, a estrutura já se encontra em nível de risco 3, o que significa ruptura iminente. Se a projeção se confirmar, um fenômeno similar ao de Brumadinho deve ocorrer, inundando parte da cidade com lama de rejeito. A tragédia, ocorrida no dia 25 de janeiro, deixou 242 mortos e 28 desaparecidos.
Entretanto, na terça-feira (28), a mineradora divulgou um comunicado — com análises técnicas — apontando que a queda da estrutura não deveria interferir na situação da barragem Sul Superior, a 1,5 km de distância.
O talude vinha registrando deslocamento de 15 a 20 centímetros ao ano, desde 2012, segundo manifestação que a Vale entregou à Justiça de Minas Gerais. A Agência Nacional de Mineração (ANM) havia divulgado que seriam 10 centímetros ao ano. Desde o fim de 2018, porém, o deslocamento total foi de dois metros, segundo a ANM. Na quinta-feira, a parte inferior do talude estava com velocidade de deformação de 24,6 centímetros por dia. Em pontos isolados, já havia atingido 29,1 centímetros por dia.
Mesmo que a queda do talude não cause o rompimento, a situação da barragem de rejeitos ainda preocupa. A Vale diz que continua monitorando a estrutura.
Segundo a Defesa Civil de Minas Gerais, cerca de 10 mil pessoas estão em áreas que podem ser inundadas em Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo. Destas, 6.000 vivem em Barão de Cocais, onde a lama chegaria dentro de 1h12min. Um estudo de hipóteses de rompimento aponta que as inundações se estenderiam até 72,5 km, sendo mais expressivas nos primeiros 52 km.