Ainda é objeto de estudos um episódio que apenas moradores mais antigos da região, pessoas que trabalhavam no local e pesquisadores conhecem. O Rio Grande do Sul também teve um caso de rompimento de barragem de rejeitos de mineração. Foi no dia 24 de novembro de 1984, na localidade de Minas do Camaquã, em Caçapava do Sul.
O reservatório, que recebia os resíduos da exploração de cobre e ouro, tinha à época uma área de cerca de 52 hectares, maior do que o Parque da Redenção, em Porto Alegre. Naquele dia, houve uma chuva torrencial. Cerca de 120 milímetros em aproximadamente uma hora. Umas das causas apontadas para o incidente foi a drenagem insuficiente para o grande volume de precipitação. Parte do barramento norte da estrutura acabou cedendo. Os rejeitos chegaram ao leito do Arroio João Dias, que passa próximo do reservatório, e pesquisas ainda detectam vestígios do material em bancos de areia do Rio Camaquã. Calcula-se que 60% dos resíduos foram derramados, atingindo, estima-se hoje, 116 hectares – varrendo inclusive o campo de pouso utilizado pelo dono da mina, o empresário e playboy conhecido como Baby Pignatari.
O povoado de Minas do Camaquã, onde moravam os trabalhadores da Companhia Brasileira do Cobre (CBC), fica acima da barragem e não sofreu com a enxurrada dos resíduos, como ocorreu com as tragédias de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, onde agora o risco pesa sobre o município de Barão dos Cocais, com a possibilidade de outro reservatório da Vale ceder. A extensão e a profundidade das barragens mineiras também é muito superior. No fim, os danos no Estado foram somente ambientais.
Nos anos seguintes a barragem foi ampliada, até o fim da exploração, em 1996. Mas o reservatório segue lá, com os rejeitos sedimentados. Hoje, com trabalho de recuperação do entorno, tem cerca de 150 hectares de visual estéril. O material que vazou ainda é encontrado nas proximidades.
A Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) tem estudos na área. Um deles tenta mapear os pontos atingidos pelos resíduos e desenvolver um modelo de simulação de rompimento de estruturas do gênero, em 4D, criando uma ferramenta que poderia ajudar em situações de alerta, criando mapas de áreas de risco e pontos que deveriam ser evacuados em eventos semelhantes.