O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou nesta terça-feira (28) que o Censo Demográfico de 2020 encolherá em relação à pesquisa feita há dez anos. O questionário básico, adotado em todos os 71 milhões de domicílios do país, diminuirá de 34 para 25 perguntas. Já o formulário aprofundado -que é aplicado a uma amostra (grupo selecionado de entrevistados)- foi reduzido de 102 para 76 perguntas.
O IBGE estava discutindo há dois meses a redução dos questionários e, por isso, foi alvo de críticas de pesquisadores e de servidores do próprio órgão, que temem que as mudanças afetem a qualidade do resultado da pesquisa.
A presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, reconheceu que o Censo sofrerá uma redução no orçamento previsto para 2020, de R$ 3,1 bilhões para uma expectativa próxima de R$ 2,3 bilhões. No entanto, ela negou que o enxugamento das perguntas tenha relação com a necessidade de economia.
— Nunca houve ordem para diminuir o número de perguntas do questionário, a única coisa que há é um quadro de restrição orçamentária. O IBGE tem autonomia para decidir como vai se adequar a este contexto — afirmou.
Susana afirmou que todos os órgãos de governo estão sofrendo cortes, não apenas o IBGE. Mas ela enfatizou que, mesmo sem restrição orçamentária, a diminuição do questionário seria feita em razão da chegada de novas tecnologias à rotina das pessoas.
— Países estão caminhando para questionários mais simples e otimizando formas alternativas de coleta de dados, não há como ser diferente — afirmou a presidente do IBGE.
Com a redução no número de perguntas, o diretor de pesquisas do IBGE, Eduardo Ríos-Neto estima que o tempo de duração da entrevista do questionário básico seja reduzido de 7 minutos para pouco mais de 4 minutos. Já o questionário aprofundado deverá ter duração de 18 minutos. Segundo ele, isso facilita a operação em campo e reduz custos e é um dos elementos mais relevantes na coleta de informações.
O principal fator de mudança para a economia de tempo, de acordo com Ríos-Neto, foi a retirada da pergunta sobre o rendimento total de cada integrante da família no questionário básico. Apenas o responsável pelo domicílio responderá sobre seu rendimento. Ele afirmou que os dados usados para as pesquisas acadêmicas sobre desigualdade e pobreza utilizam informações captadas no formulário aprofundado. O questionário básico, disse ele, é usado para abastecer pesquisas mestras do IBGE, que derivam das informações do Censo.
Servidores do instituto e pesquisadores, porém, afirmam que haverá perda na qualidade da captação do rendimento. Muitas vezes o chefe de família não tem a principal renda da casa, como lares em que há aposentados ou com mães que recebem benefícios do Bolsa Família.
— Em todas as discussões, nunca me foi apresentado nada [nenhuma exigência] de orçamento e para essa tarefa o parâmetro econômico não foi considerado, mas a qualidade do questionamento — afirmou o diretor.
O questionário por fim apresentado tem mais perguntas do que chegou a ser fechado com o corpo técnico do IBGE, cuja versão aprofundada chegou a ter 112 perguntas. Na última versão discutida pelo conselho consultivo, nesta segunda (27), o número fechado seria de 70 perguntas. Mas Ríos-Neto afirmou que as discussões levaram a uma revisão principalmente em questões de mobilidade do trabalhador. Das seis perguntas reincorporadas, quatro dizem respeito a como as pessoas se deslocam de casa para o trabalho.
Também foram reincorporadas perguntas sobre pessoas que dividem o mesmo domicílio e não são casadas formalmente. É o caso de casais do mesmo sexo, amigos e outras relações informais. O diretor de pesquisas afirmou que o questionamento é útil para fundamentar pesquisas sobre fertilidade e condições de habitação. A pergunta sobre estado civil saiu do Censo.
Outra parte que deixou a pesquisa foram as dúvidas sobre emigração. Segundo Ríos-Neto, demógrafos já usavam informações de registros administrativos da Polícia Federal para este levantamento.