Dois prédios residenciais desabaram no início da manhã desta sexta-feira (12), na comunidade da Muzema, na zona oeste do Rio de Janeiro. Segundo o Corpo de Bombeiros, ao menos três pessoas morreram e 10 estão feridas. Não há um número confirmado de desaparecidos.
Inicialmente, duas mortes tinham sido informadas. O número subiu por volta das 15h50min, quando um dos feridos, Cláudio José de Oliveira Rodrigues, 39 anos, teve a morte confirmada.
Quanto aos sobreviventes, três pessoas já foram resgatadas pelos próprios moradores. Uma mulher e um menino foram retirados das ruínas. Ainda de acordo com os residentes locais, mais três crianças da mesma família estão desaparecidas. Uma terceira pessoa foi retirada do local e levada sobre uma porta até uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que estava a seis quadras do local do acidente.
Além disso, dois homens chegaram ao hospital por volta das 11h a bordo de uma ambulância. Os feridos estão sendo atendidos no Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. Não foi divulgado o estado de saúde deles.
Entenda o caso
Os prédios caíram por volta das 6h30min. Os bombeiros foram alertados da ocorrência às 6h48min. Equipes de três quartéis (Jacarepaguá, Barra da Tijuca e Alto da Boa Vista) foram deslocadas para o local e chegaram por volta das 7h20min.
A região é de difícil acesso, está sob o domínio de milícias e os veículos de resgate estão tendo dificuldades para chegar ao local, por conta do excesso de lama, recorrência das chuvas da última segunda (8). O local foi bastante castigado pelo temporal que alagou ruas, avenidas, casas e matou dez pessoas em várias partes da capital fluminense.
Segundo os primeiros relatos dos sobreviventes, os edifícios tinham quatro e seis andares e ainda estavam em obras. Ao menos quatro famílias viviam nas construções. Antes da queda, foram ouvidos grandes estalos na estrutura.
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), foi até os prédios que desabaram. Ele saiu sem falar com a imprensa e foi vaiado por moradores da região. A prefeitura informou apenas que os prédios eram irregulares.
— As construções, além de irregulares, são construídas por leigos, pessoas que devem ter trabalhado em uma obra apenas, visto como faz e feito esses modelos aí. Todos os prédios que estão ali correm esse risco, por terem sido feito por leigos. Eu contei uns 60 prédios ali em uma olhada rápida — disse Jorge Mattos, coordenador da comissão de análise e prevenção de acidentes do Rio.
O governador do estado, Wilson Witzel (PSC), lamentou as mortes.
"Infelizmente, já há mortos e feridos vítimas do desabamento da Muzema. Situação lamentável, que acompanho com atenção" escreveu no Twitter.
A Defesa Civil isolou uma grande área no entorno do acidente, porque, segundo os moradores, nos prédios vizinhos aos que desabaram também foram registrados grandes estalos.
Sobreviventes
O subcomandante dos bombeiros, coronel Marcelo Gisler, disse que, além das três pessoas resgatadas pelos moradores, outras duas foram retiradas com vida pelos bombeiros. Este foi o caso de Carolina Andrade Ferreira, 34, retirada do local pelos profissionais volta das 13h.
— Ainda não sei como a Carolina está, mas é um alívio achá-la com vida. Preciso saber dos outros agora — disse o garçom Francisco Antônio Ferreira, 40, que mora em Guaratinguetá.
Carolina morava com uma outra irmã, Divina Patrícia Andrade Ferreira, 39, e mais um cunhado. Ambos estão desaparecidos.
Divina estava de passagem pelo Rio para visitar a família, com passagem marcada de volta para Paraíba ainda nesta sexta.
Já o pedreiro Josué Alves da Rocha, 57, não esteve no desabamento por conta de uma decisão financeira: preferiu economizar dinheiro para ir fazer um trabalho no condomínio Figueiras do Itanhangá, na comunidade de Muzema. Em vez de ir de ônibus, foi a pé andou por cerca de uma hora, por quatro quilômetros . E, por uma diferença de 30 minutos, não esteve no local onde os prédios caíram.
— Não ganhei R$ 150 pelo serviço, mas ganhei a vida — disse Josué.
Josué tinha sido contratado por um homem para fazer um trabalho em gesso na construção de uma varanda e da sala de apartamento de um dos edifícios que desabou. Ele conta que, se tivesse vindo de ônibus, teria estado no local no momento da tragédia.
— Preferi juntar o dinheiro, a situação não está fácil no Rio de Janeiro. Ia ganhar R$ 150. Então, vim a pé de Rio das Pedras. Saí de casa antes das 6h. Se tivesse vindo de ônibus, chegaria antes de os prédios caírem — ele disse. — Sinto que nasci de novo — continuou.
Interdição
Por precaução, a Defesa Civil interditou seis prédios ao lado dos dois edifícios que desabaram. Apenas os moradores do primeiro prédio tiveram alguns minutos para retirar documentos pessoais dos apartamentos, que estão agora sendo vistoriados. Os demais moradores não podem ingressar nos locais.
Sebastião Bruno, secretário de infraestrutura do Rio de Janeiro, informou que três prédios ao lado dos dois que desabaram serão demolidos por conta dos riscos de queda. Outros três ainda vão passar por vistoria para saber se será necessária a remoção. As famílias que ficarão desabrigadas vão receber aluguel social da prefeitura.