Morreu na manhã deste sábado (16), em Porto Alegre, o radialista Cláudio Monteiro, criador e primeiro apresentador do programa Gaúcha Hoje, da Rádio Gaúcha. Aos 70 anos, Monteiro lutava contra um câncer no pâncreas, diagnosticado há um ano. Ele estava internado no Hospital Conceição, na Capital, desde o último domingo (10).
A informação foi confirmada à GaúchaZH pelo filho de Monteiro, o jornalista Gustavo Gossen. Desde que teve o tumor do pâncreas diagnosticado, o radialista submeteu-se a um tratamento que incluiu sessões de quimioterapia e de radioterapia.
A despedida ocorrerá neste sábado na capela oito do Cemitério João XXIII, em Porto Alegre. O sepultamento será às 17h30min.
— Cláudio Monteiro foi um dos nomes mais importantes da Gaúcha nos anos 80. Ele foi o primeiro apresentador do Gaúcha Hoje quando o programa tinha apenas 30 minutos e depois foi ampliado. Dono de uma voz imponente, Monteiro marcou a história do rádio gaúcho — lembra o gerente-executivo da Rádio Gaúcha, Daniel Scola.
Trajetória
Cláudio Monteiro ingressou na Rádio Gaúcha em 1975. Em 1978, criou e ancorou o programa Gaúcha Hoje, um dos mais tradicionais do rádio gaúcho, atualmente comandado pelo jornalista Antônio Carlos Macedo. Ele permaneceu à frente da atração até 1987, quando deixou a emissora, abalado pela morte do pai.
— Ele iniciou o Gaúcha Hoje em 78. Era um homem de rádio. Um baita comunicador — destacou Antônio Carlos Macedo ao lamentar a morte do ex-colega.
O retorno ao Grupo RBS aconteceria em 1992, na Rádio Farroupilha. Depois, esteve como radialista na Rádio 1120, onde dedicou-se a uma de suas grandes paixões: as rádio novelas.
— O Monteiro era um cara muito criativo. Um apaixonado pelas novelas de rádio. Foi um dos repórteres que cobriu o incêndio das lojas Renner em Porto Alegre, pela Rádio Gaúcha. Ele gostava de rádio. Era um grande comunicador. O Monteiro sabia como ninguém conversar com o ouvinte. Eu tenho algumas fotografias do Monteiro aqui em casa. Em nenhuma delas ele não está sorrindo. Essa é a marca do início das manhãs da Gaúcha de 78 a 86 — disse o jornalista e professor Luiz Artur Ferrareto.
Em 1996, segundo o filho Gustavo Gossen, Cláudio Monteiro retornou à Rádio Gaúcha, no comando do programa Brasil na Madrugada, que era dividido em dois momentos. Em 2011, se aposentou dos microfones e deixou a emissora. Fora das rádios, continuou dedicado, em casa, à recuperação de rádio novelas que eram retransmitidas por emissoras em todo o país.
Paixão de uma vida
Quarta-feira passada, três dias antes de morrer em decorrência de um câncer, o radialista Cláudio Monteiro atendeu no leito do hospital ao telefonema da reportagem para falar sobre uma grande paixão: a radionovela. Recordou que, por volta dos nove anos, estava sempre ao redor do rádio de casa, atento às histórias com romances e intrigas interpretadas por radioatores gaúchos:
– Gostava porque trazia aquele dramalhão ao estilo mexicano.
O porto-alegrense Monteiro acabaria construindo uma destacada carreira no rádio. Testemunhou a extinção das radionovelas de que tanto gostava, mas, no início dos anos 1990, incentivou um grupo de radioatores a entrar novamente em estúdio para interpretar e gravar antigas histórias, as quais dirigia e também atuava.
– Eu conhecia muita gente do radioteatro, era um pessoal que tinha ficado esquecido – contou.
Uma das conquistas de Monteiro foi a compra das histórias de Raimundo Lopes, um dos nomes mais importantes da radionovela no Brasil. Criou um site (radionovelas.com.br) que comercializa CDs com versões atualizadas de antigas produções. A mais cara, O Homem Sem Passado, com 102 capítulos de 30 minutos, custa R$ 290 – essa foi sua radionovela preferida na infância.
– Vendemos bastante para rádios do interior do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná – destacou Monteiro, que não acompanhava o novo cenário do audiodramas.
Fez sua parte na recuperação da memória e da magia das histórias de dramaturgia em áudio:
– Muita gente vem falar comigo, relatar que lembra daquele tempo, de escutar as radionovelas ao meio-dia, enquanto a avó estava envolvida com as panelas no almoço. É um legado que tentamos recuperar.
Filho de Monteiro, o também radialista Gustavo Gossen promete dar sequência à paixão do pai. A ideia é continuar com o site e, a partir dessa reportagem, também surgiu a ideia de levar as gravações ao Spotify.
Confira entrevista concedida por Cláudio Monteiro ao programa Vozes do Rádio, do curso de Jornalismo da PUCRS, em 2002