O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, vai deixar temporariamente o comando da mineradora, na esteira da tragédia que deixou 168 mortos e ainda 122 pessoas desaparecidas, após o rompimento de uma de suas barragens em Brumadinho (MG) em janeiro.
Com a saída de Schvartsman, o diretor-executivo, Eduardo Bartolomeo, deve assumir interinamente o comando da mineradora.
Outros três diretores da companhia também se afastaram de seus cargos, após recomendação do Ministério Público Federal, do Ministério Público de Minas Gerais e da Polícia Federal desta sexta-feira (1º).
Em carta aceita pelo conselho de administração da Vale na manhã deste sábado (2), Schvartsman afirma ter absoluta convicção da retidão de sua conduta e do dever cumprido após a tragédia.
"Certo de que a percepção dos fatos que levou à recomendação de afastamento não corresponde absolutamente à sua realidade, tomei a decisão, nesta hora, em benefício da continuidade das operações da companhia e do apoio às vítimas e a suas famílias, de solicitar a esse conselho, respeitosamente, que aceite o pedido de meu afastamento temporário das funções de diretor presidente da Vale", escreveu o executivo.
Os outros diretores que se afastaram são Peter Poppinga, diretor-executivo de ferrosos e carvão, Lucio Flávio Gallon Cavalli, diretor de planejamento e desenvolvimento de ferrosos e carvão, e Silmar Magalhães Silva, diretor de operações do corredor sudeste.
Ao todo, foi pedido o afastamento de 14 pessoas das atividades da Vale, entre elas gerentes, geólogos e engenheiros.
A Procuradoria solicitou ainda a proibição do acesso dessas pessoas a prédios ou instalações da Vale e que a empresa oriente seus funcionários a não compartilhar com eles assuntos profissionais.
O documento que pediu o afastamento foi entregue ao advogado do conselho da Vale, Celso Vilardi, e estabeleceu um prazo de dez dias para a companhia se manifestar. "A omissão da resposta no prazo estabelecido será considerada como recusa ao cumprimento da recomendação."
De acordo com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, o afastamento dos nomes indicados não exclui a possibilidade de adoção de "medidas mais gravosas".
"A presente recomendação não esgota a atuação da Polícia Judiciária nem do Ministério Público sobre o tema, não excluindo futuras recomendações ou outras iniciativas com relação aos fatos ora expostos, inclusive e especialmente, a adoção das medidas cabíveis para obtenção do resultado pretendido", diz o texto.
Entre os gerentes alvo da recomendação das autoridades de Minas Gerais, estão sete dos oito que foram detidos no dia 15 e tiveram habeas corpus concedido pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) no dia 27.
Um dos gerentes da Vale afirmou às autoridades que diretores da empresa sabiam dos riscos da barragem de Brumadinho.
O gerente, Alexandre Campanha, respondeu que poderia afirmar com certeza e convicção que os dados de avaliação de risco e a probabilidade de ruptura, não apenas de Brumadinho, mas de outras barragens do chamado corredor sul e sudeste, eram de conhecimento dos diretores Silmar Silva e Lúcio Cavalli. Os dois se afastaram neste sábado.
A barragem da Vale em Brumadinho se rompeu em 25 de janeiro, deixando 186 mortos e 122 pessoas ainda desaparecidas.
Em uma reação de investidores à tragédia, as ações da Vale acumulam baixa de 16,76%. A desvalorização reflete o temor de que as punições que venham a ser impostas possam gerar danos à rentabilidade da companhia.
Na semana passada, a agência de classificação Moody's retirou o grau de investimento da companhia ao cortar o rating global atribuído à mineradora Vale de "Baa3" para "Ba1", com perspectiva negativa.
Durante a gestão de Schvartsman, que assumiu a mineradora em maio de 2017, a companhia se valorizou cerca de 75%. Ele foi indicado ao posto em março daquele ano.
A disparada se deu na esteira da reestruturação societária conduzida pelo executivo. O processo levou a Vale a migrar para o Novo Mercado, segmento da Bolsa brasileira com regras mais rígidas de governança corporativa. Os fundos de pensão Petros (Petrobras), Previ (Banco do Brasil) e Funcef (Caixa) seguem como maiores acionistas da companhia, por meio da Litel (21%), mas não têm o controle.
Antes de chegar à Vale, Schvartsman estava na Klabin, empresa do ramo de papel e celulose. Ele foi também presidente da companhia de perfuração San Antonio Internacional e da Telemar. Na Ultrapar, foi diretor financeiro.
Schvartsman tem 65 anos e é engenheiro formado pela Poli-USP. Ele tem ainda pós-graduação em administração de empresas pela FGV.