O presidente da Vale, Fábio Schvartsman, negou que a companhia soubesse previamente dos riscos do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), que deixou 166 mortos e 155 desaparecidos. O executivo disse que os relatórios foram feitos pela própria empresa, em atendimento a normas da Agência Nacional de Mineração (ANM).
— Gostaria de explicar que existe a obrigação legal de calcularmos para a ANM o impacto de uma eventual falência das minas no número de vítimas. Isso é lei. Isso em absoluto significa que a Vale sabia que algo ia acontecer a ponto de saber o número de mortos — afirmou, em audiência pública na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (14).
O executivo disse que a Vale tem dado amplo acesso a documentos internos, inclusive a estudos de desenvolvimento, mas esses relatórios não significam que a companhia sabia que a barragem iria se romper e foi omissa.
— Não se leva especulação para a diretoria —acrescentou.
Schvartsman afirmou que as barragens da Vale são geridas por equipes locais e que os gerentes das unidades têm autonomia para investimentos de até R$ 40 milhões sem consulta prévia à diretoria. Segundo ele, o local de construção de um refeitório, por exemplo, não passa pela diretoria.
— Apesar de eu ser presidente da companhia, não sou dono da verdade, nem sei tudo que acontece lá. Mas a maior prova de que não sabíamos do risco é que o gerente local de Brumadinho estava lá e morreu. Quando digo que foi uma surpresa é porque foi mesmo — reforça Schvartsman.
Ele salientou que diversas autoridades estão investigando o acidente e que, se houver culpados, eles serão punidos. O presidente da empresa voltou a ressaltar que o sistema de monitoramento de barragens se baseia na confiança em diversos elos, entre eles técnicos capacitados que atestam a estabilidade das barragens.
— Não é alguém na sede da empresa, no Rio, que vai dizer o que precisa de atenção imediata. A responsabilidade é local. A pedra fundamental do sistema de monitoramento são os laudos de estabilidade. Recebemos 500 laudos atestando a segurança de todas as barragens. Por que deveríamos desconfiar deles — questionou.
Enquanto falava, Schvartsman foi interpelado por deputados que recusam o uso do termo "acidente" para a tragédia em Brumadinho.
— Não temos nada para esconder, por isso aceitei convite para vir à Câmara espontaneamente.
Em resposta aos deputados que questionaram como o executivo tinha coragem de continuar na presidência após a tragédia, Schvartsman disse que não tem intenção de deixar a direção da mineradora. Ele ressaltou que vai continuar à frente da empresa enquanto contar com a confiança dos acionistas.
— Evidente que estou consternado com o que aconteceu. Não queria que acontecesse, mas me vejo como parte da solução. Compreendo e faço minha a indignação de vocês sobre Brumadinho.
Schvartsman disse ainda que a companhia não está preocupada com os gastos que terá com o pagamento de indenizações às vítimas, nem com a recuperação do meio ambiente.
— A Vale vai ser parte da solução. Não estamos olhando para parte financeira. O trabalho da Vale em relação ao resgate de animais e à recuperação do meio ambiente em Brumadinho não vai parar. Vamos agir rápido para reverter o impacto ambiental o mais rápido possível e consertá-lo — garantiu Schvartsman.
O executivo disse que a Vale não tem intenção de sair de Minas Gerais, nem de diminuir suas operações no Estado.
Segundo ele, a Vale desenvolveu tecnologias para processamento de minérios a seco em praticamente todas as áreas em que opera. Esse modelo é mais seguro que o de barragens, assegurou o executivo.
— Foi um investimento monumental da companhia. Vamos introduzir práticas modernas e o máximo de operações a seco — ressaltou Schvartsman, adicionando.
— Os investimentos em barragens aumentaram significativamente desde que entrei na Vale. Esses números são públicos e verdadeiros. Infelizmente deu uma coisa muito errada e vamos atrás da averiguação.
Schvarstman ressaltou ainda que a ex-ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie vai supervisionar os trabalhos de apuração da tragédia, como coordenadora do Comitê Independente de Assessoramento Extraordinário de Apuração (CIAEA).
— Ela está acima de qualquer suspeita. Quando digo que não sabemos o que aconteceu, é verdade. Não temos solução fácil — finalizou.