A Vale obteve autorização do governo de Minas Gerais, em dezembro do ano passado, para realizar obras que colocavam a barragem de Brumadinho em risco – incluindo explosões e uso de veículos pesados. O pedido de licença ignora laudo de junho do mesmo ano, elaborado por consultoria contratada pela própria mineradora, alertando sobre o perigo dos trabalhos. A Secretaria Estadual de Meio Ambiente diz que não foi informada dos riscos.
O projeto pretendia expandir em 70% a produção das minas de Jangada e do Córrego do Feijão – nesta última, cerca de um mês depois, ocorreu a tragédia ambiental que registrou até agora 157 mortos e 182 desaparecidos.
Segundo o G1, o laudo da consultoria Tüv Süd, contratada pela Vale, confirmava que a estrutura era estável, mas registrava problemas no sistema de drenagem e alertava que a estabilidade estava no limite das leis brasileiras. A recomendação era de evitar explosões ao redor da mina e o tráfego de veículos pesados (caminhões e retroescavadeiras, por exemplo), assim como impedir o aumento no nível de água da estrutura.
O estudo também recomendava obras para aumentar a segurança da barragem, com o objetivo de evitar a liquefação – quando um material rígido se torna líquido, fenômeno suspeito de ser a causa do desastre.
Apesar do alerta, a licença ambiental concedida pelo governo de Minas Gerais em 11 de dezembro do ano passado permite o uso de explosivos, de retroescavadeiras para remoção de rejeitos e de caminhões de grande porte.
Procurada, a Vale não informou se já havia começado as obras, mas confirmou que fez detonações nas minas de Jangada e Feijão. Não disse até quando elas foram feitas.
Já a Secretaria de Meio Ambiente de Minas Gerais afirmou que a Vale não mencionou fatores de risco nas obras – a mineradora teria apenas entregado a declaração de estabilidade da estrutura. Disse, também, que cabia à Vale informar dos perigos dos trabalhos.
A Agência Nacional de Mineração (ANM), autarquia ligada ao governo federal responsável pela fiscalização desse tipo de obras, não respondeu se tinha conhecimento do relatório da consultoria alemã.
Não é a única ação que levanta suspeitas de descaso da mineradora. Dois dias antes do rompimento da bagagem, a Vale já tinha conhecimento de que havia problemas com sensores da barragem do Córrego do Feijão. A informação foi descoberta pela Polícia Federal ao examinar e-mails trocados entre funcionários da mineradora, da consultoria Tüv Süd e de outra empresa contratada, a Tec Wise.
Peritos devem realizar estudos para confirmar se há relação entre o rompimento da barragem e explosões em minas vizinhas.