O banco traseiro de um Uno com pneu furado serviu de sala de parto para a manicure e estagiária Wenia Gomes de Oliveira, 29 anos, na manhã desta quarta-feira (30) no acostamento da freeway. À espera de uma ambulância, a moradora de Santo Antônio da Patrulha deu à luz sua terceira filha, Maria Alice, que nasceu saudável, com 40 semanas de gestação.
— Foi uma loucura! Fiquei um pouco assustada, mas tranquila. Dentro do possível.
Quem ajudou no parto foram as amigas Valdirene Geraldo da Silveira, 46 anos, e Tamires Silveira Staudt, 31 anos, que estava dirigindo o carro de Wenia quando o pneu estourou. O porto-alegrense Everton Cunha da Silva, 48 anos, que estava indo encontrar a família em Torres, parou 200 metros antes do posto desativado de pedágio por causa dos pedidos de socorro na beira da estrada. Testemunhou o nascimento também.
Enquanto Wenia tinha contrações deitada no banco traseiro, Everton tentou trocar o pneu, mas a chave de roda do seu Volkswagen não era compatível. Foi sua vez de fazer de tudo para abordar algum motorista na estrada: juntou as mãos em sinal de prece, berrou, apontou para a barriga sinalizando que tinha uma grávida no carro. Conseguiu sensibilizar só um homem, que também não tinha a chave certa.
Quando foi tentar transferir a gestante ao seu carro para levá-la ao hospital, Maria Alice decidiu nascer. Levou pouco mais de um minuto para que estivesse no colo da mãe, entregue pelas mãos de Valdirene.
Não foi só Maria Alice que chorou: ninguém dentro do Uno conseguiu segurar as lágrimas. Tamires define essa meia hora de eventos, do pneu furado ao parto, com três palavras e nenhum verbo:
— O susto... O pavor... A felicidade...
Everton correu até seu carro e pegou uma toalha limpa do Grêmio, que estava levando para a praia. Enrolou o bebê e brincou que Maria Alice "nasceu gremistinha". Wenia discorda.
— Infelizmente, era o que tinha no momento. Mas ela é "flamenguixta" — fala, em tom de brincadeira, a manicure, que é natural de Goiás.
Na sequência, os bombeiros chegaram, e Wenia ficou em observação no hospital até a tarde desta quinta (31). Atendeu a reportagem assim que voltou para casa. Era possível ouvir pelo telefone os gritos de alegria das duas filhas, de três e cinco anos, com quem mora no bairro Lomba da Páscoa.
— Foi tudo bem louco, mas eu tô muito feliz.
Everton também descreve o momento com euforia. Conta que, até então, só havia feito o parto da sua cadela.
— Tenho um cartão de apresentação dizendo que faço consertos, pintura, hidráulica, elétrica. Agora, defasou: tenho que colocar também "partos em geral".
Médico teria mandado gestante para casa pouco tempo antes
Pouco mais de duas horas antes do parto na freeway, Wenia estava no Hospital São Vicente de Paulo, em Osório, onde planejava dar à luz. Mas, segundo seu relato e de Tamires, apesar de sentir contrações e dor, ela recebeu uma injeção e foi liberada para voltar para casa.
Como seguiu sentindo dores, foi até o hospital de Santo Antônio da Patrulha. Dessa vez, ouviu que estava em trabalho de parto. Mas estimaram que demoraria 45 minutos para a chegada de uma ambulância — o hospital não tem maternidade, por isso boa parte das gestantes são encaminhadas ao São Vicente de Paulo. Decidiram voltar de novo a Osório de carro, e foi quando o pneu furou.
— Não tem como negar (que houve negligência do hospital de Osório). Mas não irei tomar nenhuma medida, porque, graças a Deus, deu tudo certo — diz a mãe, relatando que, quando retornou à instituição, foi muito bem atendida.
GaúchaZH fez contato com a administração do Hospital São Francisco de Paulo e aguarda resposta.