A palavra desistir nunca acompanhou a vida de Gustavo Bica. O estudante de Jornalismo da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), no sul do Estado, tem síndrome de Down e está a acostumado a lutar e vencer desafios. Apelidado de Guga pelos professores e colegas de curso, ele tem a família como um dos pilares para o seu sucesso.
– Minha família sempre me ajudou e me incentivou para eu chegar até aqui. Estou muito feliz – comentou o estudante.
Entre os familiares, destaque para a mãe Marilene Bica. Companheira desde o nascimento, Marilene foi persistente e incansável na missão de socializar o Guga da melhor maneira possível.
Mas não foi fácil. Ela conta que enfrentou muitas dificuldades, principalmente para encontrar uma escola para Guga, já que a maioria dos colégios de Pelotas, na década de 80, não queria que Gustavo estudasse com outros alunos.
– Foi difícil na hora do nascimento, as pessoas não sabiam lidar com uma criança com síndrome de Down. No Brasil, não tínhamos nem brinquedos pedagógicos, por isso tínhamos que ir até a Argentina para comprar.
Formado em Agroindústria pelo Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), Gustavo tornou-se em 2010 a primeira pessoa com síndrome de Down a finalizar um curso técnico profissionalizante no Brasil.
Em 2011, ele passou no vestibular para Jornalismo na UCPel. O coordenador do curso, Marcus Spohr, conta que a universidade se moldou para melhorar o aprendizado do aluno.
– A cada semestre eram realizadas reuniões, onde eram debatidas o conteúdo programático e de que forma ele seria apresentado para o estudante.
Além dos professores da universidade, Gustavo também aprendeu com os colegas. Três vezes por semana, a jornalista Ana Viegas dá aulas de reforço para ele. Com a experiência que ganhou ao longo do tempo trabalhando com Guga, Ana agora ajuda outras pessoas com síndrome de Down a entrarem na universidade.
– Com o apoio de neurologistas, conseguimos desenvolver algumas formas de estudo que são melhor compreendidas por pessoas com síndrome de Down. O caso do Guga colaborou para esse entendimento. Nossa intenção é criar uma ONG no futuro para auxiliar famílias que tenham alguém com síndrome de Down para ingressar na universidade – conta a jornalista.
Na próxima sexta-feira (14), Gustavo irá apresentar o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Com sua jornada acadêmica chegando ao fim, agora ficam as lembranças e o planejamento para os próximos passos. Segundo o coordenador do curso, o perfil do Guga tem muito a ver com a tendência do novo jornalismo.
– O jornalismo tem mudado a cada dia, e neste momento que se fala tanto na palavra de convergência midiática, o perfil dele pode se encaixar em qualquer veículo. Ele sem dúvidas será um jornalista diferenciado, que poderá perfeitamente transmitir as informações de uma forma diferente e agradar as pessoas - comentou o professor.
Sempre bem humorado, e com perfil brincalhão, Gustavo não pensou duas vezes ao responder o que diria a quem não acreditou na capacidade dele.
– Como diria Valesca Popozuda, beijinho no ombro.