A bordo de um Peugeot Passion, a família Job Silva fazia o tradicional caminho de Santa Cruz do Sul, onde morava, para Sapucaia do Sul, na tarde do último sábado (15), para visitar parentes. Faltando cerca de meia hora para chegar ao destino, uma colisão contra um Onix levou à morte do casal e seus dois filhos no km 426 da BR-386, em Montenegro.
Cristiano Ferreira da Silva, 40 anos, dirigia o Peugeot. Ele e a mulher, Karen Alessandra Job da Silva, 38 anos, moravam em Sapucaia do Sul até o ano passado, quando resolveram voltar a morar em Santa Cruz do Sul. A mudança envolveu João Vitor, 12 anos, e Manuela, três anos, frutos do casamento de duas décadas.
— Eles decidiram ter uma vida mais tranquila, longe da correria, pois num grande centro é mais difícil trabalhar e cuidar das funções com os filhos — conta Denis Job, 41 anos, um dos dois irmãos de Karen, que era a caçula.
Depois da visita aos familiares em Sapucaia do Sul, o plano do casal era levar os dois filhos para Tramandaí, onde aproveitariam uns dias de folga na praia.
Surpreendida pela notícia do acidente no sábado, Michelle Fernandes, amiga do casal há 20 anos, relembra o início do relacionamento:
— Lembro que quando eles ficaram juntos eu pensava que não poderia ser um casal mais perfeito. Os dois são pessoas especiais, iluminadas, sempre sorrindo e de bem com a vida, tiveram dois filhos lindos e muito especiais — ressalta a empresária.
Karen trabalhava como recepcionista há cinco meses no Centro Radiológico Radson. O estabelecimento lamentou, em um comunicado publicado no Facebook, a perda da funcionária: "Tivemos o privilégio de conviver com uma pessoa competente, tranquila, amável e que se tornou querida por todos que a conheceram".
Silva atuava desde que morava em Sapucaia do Sul na Ambev. Atualmente, exercia o cargo de gerente de compras na unidade santa-cruzense.
O primogênito do casal estudava na na Escola Estadual de Ensino Médio Willy Carlos Frohlich, o Polivalente, e também jogava no time de futebol americano Chacais. A equipe também se manifestou sobre o acidente: "Nossos corações e mentes estão em sintonia com os familiares, emanando energias de conforto e amor. Afinal, João Vitor era assim: alegre, comprometido, inteligente e autêntico. Quatro estrelas no céu, um Chacal zelando por nós".
A caçula Manuela, que ganhou uma festa de aniversário pelos seus três anos no dia 23 de setembro, era cuidada pela avó materna. Todos os planos dos pais eram direcionados a ela e o irmão:
— Tudo o que eles queriam era trabalhar e educar as crianças. Eram pessoas alegres e do bem. Ou melhor, seguem sendo, porém em outro plano — afirma Denis Job, que trabalha como músico e professor. — Somos todos praticantes da doutrina kardecista e é o que nos conforta: acreditar no reencontro e que eles estão juntos em uma dimensão superior à nossa — complementa ele.
Manuela foi enterrada na manhã desta segunda-feira (17) no Cemitério Ecumênico da Paz Eterna, em Santa Cruz do Sul. Já os corpos dos pais e do irmão seguem no aguardo do exame de DNA no Instituto Médico Legal (IML), em Porto Alegre, devido à carbonização, e não têm previsão de liberação.
Como foi o acidente
A família Job Silva trafegava em um Peugeot Passion vermelho, com placas de Santa Cruz do Sul, no sentido Interior-Capital da BR-386. Conforme testemunhas, no km 426, em Montenegro, o motorista teria freado para não colidir na traseira de um caminhão.
O carro acabou atingindo um dos tachões que divide a rodovia, rodopiou e invadiu a pista contrária, onde vinha um Onix com placas de Montenegro. Ambos pegaram fogo no local. Um terceiro carro, um Uno, também bateu no Onix, mas não incendiou.
Manuela estava presa junto a uma cadeirinha, encontrada em um matagal ao lado da rodovia. Os policiais rodoviárias federais suspeitam que ela tenha sido projetada no momento da colisão. A cadeirinha estava quebrada na área em que deveria ficar presa ao cinto de segurança.