Percorrer o caminho até a funerária onde a sobrinha está sendo velada foi a viagem mais longa e difícil da vida do funcionário público Éder Silveira Machado, 37 anos. O choque em perder Maria Eduarda Souza do Rosário, 12 anos, em um trágico acidente é uma dura realidade, ainda difícil de acreditar, um dia após o ocorrido.
— Todos estão muito abalados. Os pais estão em estado de choque — relata.
Ao lembrar da sobrinha, Machado conta que a ausência dela deixará uma lacuna de espirituosidade e alegria que causava em qualquer ambiente em que estivesse presente:
— A Maria Eduarda era inteligente, educada, espirituosa e alegre. Fazia todo o ambiente ficar animado. Você sabia que algo de inesperado e bom iria acontecer a qualquer momento onde ela estivesse presente. Ela inspirava alegria. Era um coração que envolvia toda a família — comenta Machado. E complementa:
— (Ela) Adorava dançar, andar a cavalo, jogar futebol, inclusive, jogava muito bem. Era muito ciumenta com os pais. Ela nunca estudava para as provas, porque sempre prestava atenção nas aulas.
Segundo o tio, Maria Eduarda sonhava em ser médica, embora na percepção dele, a menina tivesse um dom particular:
— Dizia que queria ser médica para poder cuidar dos pais, mas ela tinha um dom especial com animais, onde ela ia os animais se rendiam para ela.
Sobre as circunstâncias que ocasionaram a morte de Maria Eduarda, Machado afirma que a família não guarda rancor e não deseja mal algum para o motorista, mas espera que "justiça seja feita":
— Não desejamos mal à pessoa que causou o acidente. Só queremos que a justiça se faça por si só, que não haja impunidade. Mas não queremos que nada de mal aconteça a ele, a Maria Eduarda não gostaria que desejássemos algo assim — ressalta.
Éder Silveira Machado afirma que o luto da família é compartilhado com a preocupação simultânea com o estado de saúde do avô de Maria Eduarda, Pedro Borges do Rosário, 71 anos, ferido gravemente no mesmo acidente.
Sem ainda estar completamente ciente da situação, Machado lamenta não ter feito tudo que queria com a sobrinha:
— Ela queria muito assistir a um jogo do Grêmio. Tinha prometido que levaria ela. Pena que não deu tempo...
Família aproveitou sítio no fim de semana
Há 23 anos, Alceu Borges do Rosário trabalha como agente funerário. Na maior parte desses anos, ele atua na Funerária Lovato, onde nesta segunda-feira (26) a sua filha, Maria Eduarda, está sendo sepultada.
— Na última semana ele (Alceu, pai da menina) me pediu para ganhar folga para que pudesse ir no sítio com a família, disse que fazia tempo que não ia para lá com a Maria Eduarda. Eles andaram a cavalo, foram no rio e brincaram um monte. Estamos todos abalados com o que aconteceu — relata o gerente da funerária, Alexandre Passos.
Passos conta que Maria Eduarda era apaixonada por danças tradicionalistas e participava ativamente do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Porteira do Rio Grande.
— O Alceu me comentou que estavam na estrada ontem (domingo) naquela hora porque pretendiam chegar mais cedo em casa, pois a Maria Eduarda tinha ensaio no CTG. Ela tinha um vestido novo que tinha sido comprado para a próxima apresentação, mas que infelizmente nunca pode usar — acrescenta.