Dos 86 clubes de mães existentes em bairros e distritos de Caxias do Sul, "de 10 a 12" correm o risco de perderem o espaço onde atualmente funcionam. A situação é exposta pela vice-presidente da Associação de Clubes de Mães de Caxias do Sul (ACMCS), Marlene Capra Panazzolo, que afirma se tratar de imóveis do município requisitados pela prefeitura. A administração municipal tem buscado o uso de imóveis onde funcionam centros comunitários, como sedes de associações de bairros, por exemplo, para a instalação de escolas, postos de saúde ou centros de assistência social.
Em diversos casos, os centros comunitários foram construídos pelos moradores dos bairros em terrenos cedidos pelo município. Uma das situações envolvendo clube de mães e que motiva protesto da associação é no bairro Desvio Rizzo. No dia 4 deste mês, o clube de mães Santa Rita de Cássia foi chamado pela Secretaria da Educação de Caxias para uma reunião onde foi comunicado que deveria deixar o local atualmente ocupado para a ampliação de uma escola de educação infantil. No dia seguinte, o clube recebeu uma notificação da prefeitura dando prazo de 30 dias para desocupação.
O clube de mães do Desvio Rizzo funciona na Rua Romano Zattera, no segundo andar de um prédio onde, no primeiro andar, funciona uma escola de educação infantil que atende 90 crianças entre 0 a 5 anos. A intenção da prefeitura é utilizar o segundo andar para atender mais 90 crianças.
A secretária de Educação, Marina Matiello, explica que o bairro tem uma das maiores demandas por vagas na educação infantil da cidade, ao lado do Serrano e do Esplanada. Só no Desvio Rizzo, 550 crianças estão na fila de espera. Mesmo com a ampliação da escola utilizando o espaço do clube de mães, essa demanda não seria contemplada.
A vice-presidente da associação dos clubes de mães manifesta repúdio à medida da prefeitura, pela forma como foi decidida e comunicada. Marlene relata que foi a comunidade do Desvio Rizzo que construiu o prédio onde funcionam a escola e o clube de mães, além de construir um pequeno posto de saúde e a subprefeitura do bairro, como contrapartida da cessão do terreno pelo município, ainda na época do prefeito Mansueto Serafini. Ela também argumenta que o clube de mães faz um importante trabalho voluntário, com doação de roupas a recém-nascidos, alimentos e também é um espaço importante para o convívio de pessoas idosas. Marlene questiona se a prefeitura não poderia de outra forma construir uma nova escola.
— Neste mesmo local o terreno é grande, e permite que seja feito um projeto semelhante na lateral do prédio — afirma.
A secretária de Educação diz que entende a importância do clube de mães e reconhece o trabalho que faz pela comunidade. No entanto, ela afirma que, considerando a prioridade para a educação infantil, para permitir que os pais possam trabalhar e tenham onde deixar os filhos, foi tomada essa decisão.
Segundo Marina Matiello, foi feito um levantamento em todo o bairro para verificar a possibilidade de uso de outro ponto. No entanto, como a escola de educação infantil requer condições específicas de estrutura, como a metragem do prédio, há restrições para os locais onde uma construção pode ser feita. A secretária afirma que a forma mais ágil para o município ofertar vagas é ocupando o segundo andar do prédio onde funciona o clube de mães. Fora este espaço, no bairro ainda há a possibilidade de construção de uma escola no Loteamento Guadalupe e a utilização de duas casas atualmente em uso pela Secretaria da Habitação.
Marina diz que há uma preocupação também com as pessoas idosas que participam do clube de mães, e disse que está à disposição para auxiliar a encontrar um novo local.
— Temos muito respeito pelo trabalho do Clube de Mães e, em consideração a elas, convidamos para explicar por quê precisaríamos do prédio para a demanda da educação infantil, antes de enviarmos a notificação — afirma.
Já a presidente da Associação dos Clubes de Mães questiona se as cerca de 60 integrantes, muitas em idade avançada, vão de fato sair em busca de um novo local e defende a permanência delas no espaço já utilizado.
Caxias do Sul tem atualmente 4,6 mil crianças de zero a três anos na fila de espera por uma vaga. Cerca de 700 crianças de quatro a cinco anos não se matricularam, mas por falta de procura pelos pais, segundo a secretária. Ela afirma que, quando assumiu a pasta, 6,8 mil crianças estavam na fila de espera.
No caso do Desvio Rizzo, ainda demorará alguns meses para que a nova escola fique pronta, se o clube de mães deixar o espaço. Segundo a secretária, será necessário avaliar a estrutura do local para saber qual reforma deverá ser feita antes de lançar a licitação para executar a obra. A expectativa é que a escola ampliada entre em funcionamento durante o ano letivo de 2019 .