O atendimento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) está suspenso em quase todo o Rio Grande do Sul desde as 19h de segunda-feira (13). Telefonistas e rádio-operadores paralisaram as atividades por falta de pagamento. Médicos reguladores e equipes estão a postos, mas não podem trabalhar pois não recebem os chamados.
O Samu Estadual só não atende chamados de Porto Alegre, Caxias do Sul, Bagé e Pelotas, que possuem regulação municipal. Todas as demais cidades gaúchas dependem de atendimento na central da Capital, que realiza a triagem e encaminha as equipes.
Na noite de segunda-feira, GaúchaZH esteve na central onde os telefonistas atendem os chamados. Os guichês usados por eles estavam vazios, sem ninguém trabalhando.
Pacientes aguardavam atendimento por mais de uma hora. Em um gráfico que mostra o tempo de aguardo das pessoas por atendimento, a reportagem constatou uma ligação de 1h30min.
Na manhã desta terça (14), dois servidores faziam o atendimento. O secretário adjunto de Saúde, Francisco Bernd, afirmou que 15 atendentes passam por treinamento e devem começar a trabalhar nesta tarde. Ele estima que o Samu opera com 60% da capacidade.
Problema
Médicos e enfermeiros que prestam o primeiro atendimento por telefone estão com o serviço comprometido, pois as chamadas não são encaminhadas. Eles ainda alegam que não possuem treinamento para operar o sistema usado pelos telefonistas.
— Eles operam o sistema 192 que a população liga e faz um primeiro levantamento. Se forem casos de urgência, são passados para os médicos reguladores, que fazem a entrevista e decidem se é caso de encaminhar a ambulância — explica a diretora do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) Clarissa Bassin.
A dirigente fez um boletim de ocorrência na noite de segunda-feira na Polícia Civil (foto ao lado). Ela também afirma que vai denunciar, mais uma vez, o caso ao Ministério Público Estadual e Federal.
Terceirizados estariam sem receber
Os telefonistas da FA Recursos Humanos, terceirizada contratada pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), afirmam que paralisaram as atividades devido a atrasos no salário. Eles dizem que os atrasos ocorrem há mais de um ano, mas que agora estão desde maio sem receber qualquer valor. O pagamento de vale-transporte também não estaria sendo repassado há 43 dias.
— O pessoal estava tirando dinheiro do próprio bolso para ir trabalhar — relatou, por telefone, uma funcionária terceirizada.
Segundo ela, os telefonistas procuraram a FA Recursos Humanos para cobrar os pagamentos, mas, como encontraram as portas fechadas, decidiram paralisar as atividades.
A SES, via assessoria de imprensa, afirma que todos os pagamentos estão em dia com a empresa e que vai checar nesta terça-feira se a terceirizada não está repassando os valores aos funcionários.
A secretaria diz, ainda, que ficou sabendo da paralisação no final do dia e que imediatamente começou a remanejar funcionários próprios, sem especificar de quais órgãos, para atender aos chamados do Samu, acrescentando que a central telefônica estava funcionando.
No entanto, depois de receber essa informação da SES, por volta das 23h, a reportagem de GaúchaZH tentou, com ajuda de um morador de Santa Cruz do Sul, fazer uma ligação para o Samu. Ninguém atendeu ao telefone na central do Samu.
A própria prefeitura de Santa Cruz do Sul enviou comunicado dizendo que, "em função de uma greve de funcionários da terceirizada do Samu, o telefone 192 está indisponível no momento" e orientou os moradores a ligar diretamente para os números 190 (Brigada Militar) ou 193 (Corpo de Bombeiros) para obter atendimento em caso de necessidade.
Contraponto
GaúchaZH tentou contato com a empresa FA Recursos Humanos por telefone e e-mail, mas ainda não obteve retorno.
* Colaborou Vanessa Kannenberg