Um fenômeno de nome ainda desconhecido varreu parte dos municípios gaúchos entre o fim da noite de segunda-feira (11) e o início da madrugada de terça-feira (12). O temporal causou a morte de duas pessoas, derrubou paredes de concreto e arremessou caminhões em estradas. De acordo com a Defesa Civil do Estado, em balanço divulgado às 17h desta terça-feira (12), foram 2.630 residências atingidas em 24 municípios, com duas mortes, 10 pessoas desabrigadas e 22 desalojadas.
Porém, os números parecem tímidos diante das cenas de árvores decepadas e animais sem vida espalhados pelo campo, especialmente na região norte do Rio Grande do Sul.
Entre as cidades mais afetadas, aparecem Água Santa, Ciríaco, Coxilha, Ronda Alta e Tapejara. Ciríaco registrou uma das duas mortes causadas pela tempestade — José Alves Nunes, 54 anos, morreu soterrado em uma casa. A outra vítima do mau tempo foi Rita Didomênico, 69 anos, que morreu após a casa desabar na localidade de Linha Águas do Ângico, em Sarandi.
— Ainda não temos a dimensão total do prejuízo, mas, com certeza, foi grande — resume o vice-prefeito de Ciríaco, Odacir Mello (PT).
Moradores acreditam que um tornado tenha levado à devastação as suas áreas rurais. No entanto, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), ainda não há confirmação de registro do fenômeno.
Em Ronda Alta, município de pouco mais de 10 mil habitantes, o cenário devastado de uma casa sacra reflete os impactos violentos do temporal. Pedaços inteiros de paredes da igreja da comunidade Linha Macali I vieram abaixo. Intacto, restou somente o quadro da Santa Ceia, como se Jesus e seus apóstolos mirassem incrédulos para o rastro de destruição diante dos olhos.
— Sem dó, o vendaval causou dano de 100% em uma construção sólida. A comunidade está chocada — contou o vereador Silvanio Lucca (PT), técnico da Secretaria de Agricultura da cidade.
Na localidade, o salão comunitário, abatido por outro temporal em 2013, também desfigurou-se. Os moradores estimam perdas de R$ 500 mil. Já em Coxilha, o prefeito, Ildo Orth (PP), diz que os prejuízos são incalculáveis.
— É um cenário de guerra — afirmou Orth.
No município, o corredor de vento arrasou sobretudo a comunidade do Rio do Peixe. Três caminhões que transitavam na RS-463 foram arremessados e tombaram na rodovia — um dos veículos chegou a ser arrastado cerca de 40 metros para dentro de uma lavoura, segundo o prefeito. O motorista precisou ser hospitalizado.
Às margens da estrada, o produtor rural Delcio Baseggio mantém duas propriedades. Depois do alerta de funcionários, encontrou os terrenos esfacelados.
— O cenário é de destruição. Não existe mais nada, está tudo no chão — lamentou Baseggio.
O vento ameaçou silos da propriedade e chegou a arrancar parte das superfícies. Galpões e armazéns também despedaçaram-se. Sob os destroços, restaram as colheitas de soja, trigo e feijão. A família do produtor administra as propriedades há 65 anos. Conforme Baseggio, nunca viu-se nada igual.
A sua vizinha, Marisete Artuso, concorda com o ineditismo do fenômeno. À produtora, funcionários descreveram que os golpes de vento chegaram de todos os lados, formaram um redemoinho e rapidamente levantaram as construções.
— Foi uma catástrofe da natureza — resumiu Marisete.
Em Água Santa, ao menos 10 aviários foram destruídos, causando a morte de 220 mil frangos. O prefeito da cidade, Jacir Miorando (MDB), ouviu relatos de galinhas vistas a 500 metros dos viveiros e terneiros "rodopiando" no céu. Árvores de grande porte também acabaram decepadas.
— Imagine chegar a uma propriedade e ver roupas penduradas em árvores e casas em pedacinhos. É imensurável — sintetizou Miorando.
O mau tempo ainda deixou mais de cem mil pontos do Estado às escuras, provocou falta de água em municípios de diferentes regiões e causou o bloqueio de estradas. Diante dos problemas, a Defesa Civil do Estado e dos municípios passaram o dia distribuindo lonas e telhas aos municípios.
No município de Tupanciretã, na Região Central, a terça-feira (12) foi para contabilizar prejuízos. Uma chuva de granizo com duração de cerca de cinco minutos causou estragos em mais de 400 residências. Os moradores do centro e do bairro Pedreira foram os mais atingidos. A prefeitura teve as atividades suspensas para centralizar o atendimento aos moradores atingidos. As aulas na rede municipal também foram canceladas.