Se os especialistas ainda não sabem explicar com precisão qual fenômeno meteorológico atingiu a região do Planalto, o mecânico Luciano de Oliveira, 41 anos, define assim o assombro vivido na última madrugada:
— Foi um tufo apavorante. Um vento forte, com pedra e relâmpago que sacudiu tudo. Durou dois, três segundos, e depois que passou, vi que destruiu tudo.
Luciano estava em casa, um chalé de madeira encravado em esquina do bairro Planalto, na periferia de Ciríaco. Por volta das 2h desta terça-feira (12), ouviu o primeiro uivo de vento. A mulher, Juliane, grávida de oito meses, dormia no quarto do casal com a caçula de cinco anos.
Na peça ao lado, dormia o filho mais velho, de nove anos. Ao pressentir a fúria do vendaval iminente, o mecânico correu com a família para o banheiro, única peça de tijolos da casa. Ficaram lá cerca de três minutos. Quando saíram, para onde olhassem, o cenário era desolador.
— Tava tudo destruído. A casa destelhada, os móveis revirados, a TV cheia d’água. Nem em filme, jamais vi isso — relata Luciano, com os olhos úmidos de tristeza.
Antes de abandonar o lar, a família ainda permaneceu alguns minutos no porão, com medo que a ventania indomada causasse ainda mais estragos.
Silos desabados e propriedades no chão
Na rua, vizinhos pediam ajuda, enquanto também retiravam as famílias de dentro de casa. Havia árvores decepadas, postes caídos, a fiação tombada e chuva inclemente acentuando o martírio.
Com cerca de 4 mil habitantes, a pequena Ciríaco foi uma das cidades mais afligidas pelo vendaval. Uma pessoa morreu, soterrada pelos escombros da própria casa. Centenas ficaram desalojadas. Até as 20h de ontem, o fornecimento de energia elétrica continuava suspenso e poucos telefones funcionavam.
Pelas janelas das casas, resplandecia apenas o brilho efêmero e bruxuleante de velas acesas. Nas ruas escuras, equipes da RGE tentavam religar a rede de alta tensão. Os poucos carros que saiam às ruas circulavam com o pisca-alerta ligado.
Ao largo da RS-285, que liga a cidade a Passo Fundo, havia silos desabados e propriedades inteiras no chão. As poucas araucárias que restaram de pé guardavam encravados no tronco pedaços de telha de brasilit, como se fossem tatuagens de uma natureza raivosa.