Criado há um ano e meio, o Grupo de Investigação (GDI) do Grupo RBS foi apresentado na manhã desta sexta-feira (29) no 13º Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), realizado em São Paulo. Editora da equipe, Dione Kuhn palestrou no painel "Crie o seu Spotlight: como montar um time de investigação".
Mediada pelo jornalista Guilherme Amado, repórter do jornal O Globo e da revista Época e vice-presidente da Abraji, a palestra também contou com a participação de Giampaolo Braga, editor dos jornais Extra e O Globo, e Rodrigo Rangel, chefe de redação da revista online Crusoé. Durante pouco mais de uma hora, os jornalistas contaram ao público como montaram os seus times e quais os desafios para comandá-los.
– Temos a preocupação de mostrar, nas diversas áreas, o que está errado. Para mim, o mais importante no jornalismo investigativo está na consequência, ou seja, no que podemos fazer para mudar uma situação – disse Dione lembrando que, em vários casos, a publicação das apurações foi o ponto de partida para investigações oficiais.
Formado por integrantes das redações de Diário Gaúcho, Rádio Gaúcha, RBS TV e Zero Hora, o GDI é uma iniciativa inédita no jornalismo brasileiro. O grupo surgiu da ideia de fortalecer o trabalho de investigação que já era realizado nos veículos do Grupo RBS, produzindo reportagens de grande impacto com potencial de transformar a sociedade.
Inspirado no trabalho pioneiro desenvolvido pela equipe Spotlight, do jornal The Boston Globe, o GDI tem o seu potencial de apuração ampliado pela união de equipes das áreas digital, impresso, rádio e TV. Entre os 10 repórteres que integram a equipe, Dione destacou uma característica essencial para a execução da iniciativa – a variedade de habilidades técnicas de apuração.
– O GDI se consolidou e se tornou um grupo blindado na redação. Os repórteres estão ali para investigar e compartilhar experiências – acrescentou a editora.
Dione ainda mencionou a diversidade de pautas executadas pelo grupo, que ultrapassam as investigações tradicionais de polícia e política. Na palestra, citou as reportagens “Uma gestão sob investigação”, que trouxe à tona os motivos que levaram a gestão de Vitorio Piffero no Sport Club Internacional a ter as suas contas rejeitadas, e “Facinepe, a faculdade de papel”, que revelou como uma instituição inativa emitia diplomas e certificados sem valor legal, entre outras matérias de grande repercussão.
Desde o seu lançamento, os integrantes do GDI produziram mais de 50 trabalhos. O primeiro, “Perigo no prato”, mostrou a presença ilegal de agrotóxicos em alimentos vendidos na central de abastecimento de Porto Alegre, levando à suspensão de produtores.
No painel, os veículos convidados apresentaram experiências diversas. Na Crusoé, por exemplo, a equipe liderada por Rangel dedica-se, há dois meses e meio, a descortinar irregularidades nos círculos do poder de Brasília.
– Precisamos voltar a fazer investigações e apurações próprias – sublinhou o chefe de redação ao mencionar que a Lava-Jato tornou o jornalismo brasileiro refém de documentos oficiais.
No Extra, o time de investigação debruça-se sobre a segurança pública, um dos problemas mais sensíveis do Rio de Janeiro. Para Braga, um "Spotlight" necessita de equipe variada trabalhando com dados e focada nos direitos humanos.
– Jornalismo não tem a ver com fazer amigos – finalizou o editor.