Geral

Estragos do temporal

Casas levadas pelo vento, galpões destruídos e 15 mil frangos mortos: o relato da devastação em Água Santa

"Quando a gente desceu, primeiro foi a casa que sumiu. Depois, o assoalho. Clareou o céu sobre a nossa cabeça", afirmou Tadeu Lorençon, testemunha dos vendavais na cidade

Fábio Schaffner

Água Santa

Enviar emailVer perfil
Lauro Alves / Agencia RBS
Cenário de devastação em Água Santa

É difícil encontrar um metro de campo limpo nos 50 hectares dos irmãos Lorençon, em São Caetano, localidade do município de Água Santa, no norte do Estado. Onde antes a família criava vacas de leite e frango sobrou agora um charco de barro, misturado à serragem, coberto por escombros de concreto, madeira, aço, ferro e zinco. 

Olhar ao redor é pura desesperança. Onde a vista alcança, longe no horizonte, é possível enxergar o brilho dos pedaços de telha pendurados no que restou do topo das árvores.

Das quatro casas da propriedade, duas praticamente desapareceram, levadas pelo vento. As que sobraram perderam o telhado e estão com a estrutura abalada. Os dois galpões, um deles construído há dois meses, foram ao chão, soterrando carros, caminhões, duas colheitadeiras e outros maquinários agrícolas. 

Duas vacas e um terneiro morreram. Torres de transmissão, feitas de aço galvanizado, mais pareciam de arame, dada a facilidade com que padeciam retorcidas no chão. Em uma encosta ao lado do terreno, centenas de pinheiros destroçados deformavam a paisagem.

Lauro Alves / Agencia RBS
Em dois aviários, 15 mil frangos morreram.

Os dois aviários nos quais Tadeu Lorençon, 62 anos, criava 35 mil frangos, não existem mais. Da estrutura de 2.740 metros quadrados ficaram apenas comedores espalhados pelo chão, enredados em fios e cabos, em um ambiente onde ainda predomina o mau cheiro da carne putrefata de 15 mil aves mortas.  Tadeu conseguiu salvar a maior parte da produção. Ainda ontem, voluntários ajudavam a recolher alguns animais perdidos no campo.

Enquanto buscavam consolo nos amigos e no vizinho, que vieram ajudar na limpeza do terreno, Tadeu e o irmão Pedro, de 55 anos, lembravam os momentos de pavor vividos durante a madrugada. 

Pedro estava em casa com a mulher, dois filhos e uma nora na noite de segunda-feira (11). Quando o vento trinou do lado de fora, ele chamou o resto da família para o seu quarto, por onde tentariam descer para o porão. Não deu tempo.

— O alçapão começou a levantar. Então, eu e minha mulher ficamos em cima, escorados na parede, tentando segurá-lo. Quando minha filha vinha pra cá, o vento levou tudo. As paredes do corredor caíram, a guria ficou embaixo de dois guarda-roupas, que desabaram. Meu guri e a mulher dele, grávida, tentaram correr, mas uma viga caiu sobre a cama. Os móveis foram arrastados, e eles ficaram debaixo das madeiras. Das quatro paredes de concreto dos quartos, três foram levadas pelo vento. Só ficou essa, onde a gente tava encostado. Chovia, relampejava, e nós aqui apavorados – conta Pedro, em lágrimas.

Quando o vento acalmou, a família correu para a casa do irmão, que ficava a 10 metros dali. Mas já não havia mais nada. O chalé de madeira foi varrido, todas as paredes foram abaixo. Tadeu, a mulher e um filho estavam abrigados no porão, mas até o assoalho havia levantado voo com o vento, deixando-os sem cobertura.

Lauro Alves / Agencia RBS
"Clareou o céu sobre a nossa cabeça", disse Tadeu.

— Quando a gente desceu, primeiro foi a casa que sumiu. Depois, o assoalho. Clareou o céu sobre a nossa cabeça. A gente só escutava aquele uivo forte do vento, as coisas estourando. Foi horrível. Fiquei todo molhado, com a cabeça cheia de terra, mas pelo menos ninguém se machucou — afirmou Tadeu.                                                                                           

A desgraça tem algumas coisas boas. Tomara que isso sirva pra gente dar uma parada e repensar os valores.

TADEU LORENÇON

Produtor rural

Juntos, os dois grupos se socorreram no porão de uma terceira casa da família, menos atingida pelo vendaval. Ficaram lá até o amanhecer, quando saíram para avaliar os estragos da madrugada de terror. Na casa de Pedro, a geladeira havia sido arrastada da cozinha, e a porta do congelador não foi mais encontrada. As paredes de concreto tinham buracos. A fiação pendia de um teto que não estava mais lá. 

Da casa de Tadeu, não havia mais chão, paredes, nem telhado. Sobrou apenas um banheiro em ruínas.

— A desgraça tem algumas coisas boas. Tomara que isso sirva pra gente dar uma parada e repensar os valores. Para a gente cuidar mais da saúde, da família, dos amigos. Olha só, hoje tem gente aqui que nem conheço, nunca vi antes e estão nos ajudando – refletiu Tadeu, olhando ao redor da propriedade para as quase cem pessoas que, desde o início da manhã de quarta-feira (13), manejavam tratores e ferramentas, limpando o campo, reconstruindo telhados e, sobretudo, prestando solidariedade aos Lorençon.

Lauro Alves / Agencia RBS
Aviário virou uma estrutura de ferro retorcido
Lauro Alves / Agencia RBS
Produtores tentam recuperar os destroços em Água Santa
Lauro Alves / Agencia RBS
Moradores da cidade ajudaram os atingidos pelos vendavais

Como funciona um tornado

Dados atualizados da Defesa Civil sobre os estragos dos temporais


GZH faz parte do The Trust Project
Saiba Mais
RBS BRAND STUDIO

Esporte e Cia

00:00 - 05:00