Com a força de quem praticamente monopoliza a logística do país, hasteando a simpática bandeira da redução do preço do combustível, o movimento dos caminhoneiros deverá crescer e se tornar ainda mais visível nas rodovias nesta sexta-feira (25).
Se espalhando por outros setores da economia, ganhará o apoio dos agricultores gaúchos, que deslocarão tratores e máquinas para os trevos de estradas. Prefeituras estão orientadas a paralisar os serviços, exceto os de saúde, enquanto os motoboys também irão cruzar os braços no Rio Grande do Sul.
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), tradicional entidade sindical, decidiu se juntar aos caminhoneiros para apoiar a pauta da redução do preço do diesel, mas acrescentou entre as suas demandas a redução de impostos na energia elétrica, a redução dos juros dos financiamentos do Plano Safra 2019 e a regulamentação da lei que concede desconto aos produtores que quiserem liquidar dívidas antigas do Pronaf.
— Amanhã (sexta) vai ser o Dia D. A ideia é nos juntarmos aos caminhoneiros com tratores e máquinas agrícolas. Estamos pedindo pelo bom senso, nossa única condição é que cargas de animais vivos, ração e leite possam passar. Na maioria dos pontos, está dando certo — afirma Carlos Joel da Silva, presidente da Fetag-RS, comentando os bloqueios de rodovias e a hipótese de produtos perecíveis estragarem e animais de criação passarem fome.
Por orientação da Federação da Associação dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), as prefeituras gaúchas devem paralisar por um dia todos os equipamentos e serviços que utilizam combustível nesta sexta, com exceção da área da saúde. Em pesquisa da entidade, houve manifestação de 374 municípios - dentre 497 - em favor da adesão, que poderá ser feita por ponto facultativo ou decreto de calamidade pública.
— Os principais serviços que as prefeituras prestam precisam de combustíveis, como a manutenção de estradas, o recolhimento de lixo, o transporte escolar, os setores administrativos. Tudo isso vai parar. Se persistir esse quadro, segunda vai ter de permanecer paralisado. E terça também. A prioridade vai ser para os transportes da saúde — diz Salmo Dias de de Oliveira, presidente da Famurs e prefeito de Rio dos Índios.
O eventual corte ou redução da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide-combustíveis), fundamental para atender a demanda de redução do preço do diesel nas bombas, não seria o ideal para as prefeituras. Em crise financeiras, elas perderiam receita caso esse imposto fosse zerado.
— O corte da Cide seria ruim, retiraria dos municípios um valor importante, mas hoje o valor dos combustíveis representa para as prefeituras uma causa maior _ destaca Oliveira.
Não é só nas estradas que a onda ganha corpo. Na tarde desta quinta-feira (24), motoristas de vans escolares circularam em comboio pelas ruas de Porto Alegre em apoio aos caminhoneiros e protesto contra os preços dos combustíveis.
O Sindicato dos Motociclistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindimoto) orientou a categoria a aderir ao estado de paralisação geral a partir das 13h desta quinta. A entidade informa que negociou com diversas empresas para que os motoboys não tenham os dias descontados, considerando até a dificuldade de trabalhar pela escassez de combustível. Motoqueiros irão se concentrar às 8h desta sexta-feira na estátua do Laçador, em Porto Alegre, iniciando cerca de uma hora depois deslocamento até a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas.
— A Nossa manifestação é contra a alta do preço do combustível. É do interesse de todo o povo brasileiro — diz Valter Ferreira, presidente do Sindimoto, que orienta o retorno ao trabalho na segunda-feira.
Segundo Ferreira, ao cruzarem os braços, os motoboys afetam principalmente o setor de telentrega de refeições, mas também documentos e medicamentos, entre outros.
Os atos correram o Brasil. Em Fortaleza, nesta sexta-feira, motoristas de aplicativos fecharam a avenida de acesso ao aeroporto da capital cearense. Em São Paulo, taxistas e motoboys, também interessados na redução do valor do combustível, estudam aderir ao movimento liderado pelos caminhoneiros.
— A nossa posição é de solidariedade aos caminhoneiros, eles estão com a razão, mas não há nenhuma previsão de greve da nossa parte. A maioria da nossa frota é movida pelo GNV (gás natural veicular) — informa Luiz Nozari, presidente do Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre (Sintáxi).
Por outro lado, o engessamento do país está trazendo riscos de pesadas perdas econômicas, o que começa a causar reações. Nesta quinta-feira, o Sindicato das Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat) anunciou que irá ingressar na Justiça para garantir o livre trânsito de caminhões que transportam leite cru por rodovias.
Para tentar escapar de bloqueios de estradas impostos por caminhoneiros, em alguns casos mantidos sob ameaças, agressões e pedradas, o Sindilat pretende evocar "o direito à livre locomoção e circulação no território nacional e o livre exercício da atividade econômica". Produtores alertam para o risco de desperdício da produção leiteira enquanto o impasse com os caminheiros não for resolvido.
A Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS) divulgou nota cobrando "solução imediata" e citando que "prejuízos significativos tem sido acumulados", sobretudo na movimentação de produtos "in natura".