Três anos se passaram e o desaparecimento da professora universitária Cláudia Pinho Hartleben ainda intriga a cidade de Pelotas, no sul do Estado, onde ela vivia. Para evitar que o caso caia no esquecimento, amigos e familiares vão realizar uma manifestação nesta segunda-feira (9), a partir das 13h.
O ato foi marcado em frente ao Fórum de Pelotas (Avenida Ferreira Viana, 1.134) justamente para cobrar das autoridades um desfecho para o caso. "Abaixo à violência e à impunidade" é como a manifestação foi nomeada e divulgada nas redes sociais.
— Não queremos deixar o nome dela esquecido, porque era uma pessoa maravilhosa — afirma a mãe, Zilá Hartleben, num tom de quem já aceitou que a filha está morta e com a serenidade de quem acredita no espiritismo.
— Ela não está mais viva e sei que ela está bem. Ainda assim, por mais que sei que vai ser difícil, pois foi um crime perfeito, quero que a justiça seja feita — completa Zilá, aos 83 anos, que segue escrevendo cartas para se conectar com a filha.
No dia 9 de abril de 2015, após sair da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), onde dava aula e coordenava o curso de Biotecnologia, Cláudia passou pela casa de uma amiga, onde ficou por pouco mais de duas horas. De lá, seguiu para a própria residência. Depois disso, ela nunca mais foi vista.
Em dezembro de 2015, o Ministério Público (MP) de Pelotas denunciou por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e feminicídio o ex-marido da docente, João Morato Fernandes, e o filho do casal, João Félix Hartleben. A denúncia foi embasada em contradições nos depoimentos do jovem e em informações de uma ocorrência de agressão, registrada por Cláudia contra o ex-marido.
Na época, em entrevista a ZH, Fernandes disse que nunca ameaçou a ex-mulher e que estava sendo vítima de uma "armação". A Justiça negou a denúncia do MP por falta de provas — já que o suposto corpo nunca foi localizado. A Promotoria recorreu da decisão, em 2016, mas o Tribunal de Justiça (TJ) também indeferiu o recurso.
O promotor responsável pela ação, José Olavo dos Passos, diz que não recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para poder continuar investigando. Dessa forma, o inquérito se encontra com a Polícia Civil, para que sigam buscando indícios.
A família da professora da UFPel chegou a contratar uma empresa de investigação particular, especializada em investigação e perícias, para ajudar a esclarecer o que aconteceu, entretanto, os profissionais também não encontraram pistas sobre o paradeiro de Cláudia. Assim, os serviços foram dispensados pelos familiares.
Relembre o caso
- Em 9 de abril de 2015, uma quinta-feira, em Pelotas, a professora Cláudia Pinho Hartleben, então com 47 anos, deixou a universidade onde trabalhava e foi visitar a amiga Eliza Komninou. Por volta das 22h30min, saiu dizendo que iria para casa, onde morava com o filho e o companheiro, Pedro Luís Ballverdu Gomes, que, naquela noite, estava em viagem.
- O trajeto entre as duas casas, que duraria cerca de 10 minutos, foi registrado por uma câmera de vigilância. O carro usado pela professora aparece em uma imagem às 22h48min. A mãe, que mora na casa ao lado, ouviu quando a filha chegou, porque o portão fazia barulho.
- O desaparecimento foi percebido só no dia seguinte. Roupas, o veículo, objetos pessoais e pasta com notebook que carregava na noite anterior estavam na casa, comprovando que ela esteve lá antes de sumir. A cama de Cláudia aparentava não ter sido usada. A polícia não encontrou nenhum indício de violência, sinais de arrombamento na casa ou digitais de suspeitos.
- O filho da professora, João Félix, disse que estava dormindo e não viu nem ouviu a mãe chegar. Conforme a denúncia do MP, o rapaz costumava chegar em casa por volta de meia-noite e dormir mais tarde. Em depoimento, ele afirmou ter se deitado entre 22h e 23h naquela noite. A proximidade do jovem com o pai, que tinha histórico de agressão e ameaça contra Cláudia, levou o MP a concluir que ambos participaram do assassinato dela. Ex-marido e filho negaram, em depoimento, envolvimento cm o sumiço.
- A denúncia por homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver, protocolada pelo MP em dezembro de 2015, foi rejeitada pela Justiça por falta de provas, principalmente por não haver corpo que comprovasse a morte. A promotoria recorreu em 2016, mas o Tribunal de Justiça também negou o pedido.
- O caso segue sob investigação do MP em conjunto com a Polícia Civil, que buscam provas, testemunhas e indícios da localização de Cláudia.