O promotor de Justiça José Olavo Bueno dos Passos, responsável pela denúncia contra o ex-marido e o filho da professora Cláudia Hartleben, desaparecida desde abril, afirmou, em entrevista a Zero Hora, que uma série de contradições embasam o seu pedido à Justiça. Mesmo sem o corpo ter sido encontrado, ele alega não ter dúvidas em apontar os dois homens, João Morato Fernandes (separado dela há cinco anos) e o filho dos dois, João Félix Hartleben, como autores de homicídio qualificado.
- Um somatório de indícios e contradições, bem como fatos do passado que mostram possível motivação de vingança - resume José Olavo, que desde julho investiga o sumiço de Cláudia.
Professora da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Cláudia desapareceu em 9 de abril logo após chegar em casa, de carro, por volta das 23h. O carro ficou na garagem, com a chave na ignição - algo estranho para os padrões metódicos da professora. Ela também deixou em casa o notebook, anéis, relógio, roupas e dinheiro. Sinal de que não saiu para lugar algum de forma planejada, muito menos uma viagem, ressalta o promotor José Olavo.
Perícias não identificaram marcas de luta na casa, o que aponta que Cláudia foi dominada ou saiu de forma espontânea da residência - tudo indica, após encontrar alguém muito íntimo.
- Ela tinha compromissos no dia seguinte. Por que sumiria, sem levar o carro, dinheiro, nada? Porque foi levada - resume o promotor.
O promotor não detalha como, mas assegura existirem provas de que Cláudia encontrou o filho em casa por volta das 23h de 9 de abril. O rapaz, porém, nega ter visto a mãe. Ele diz que estava dormindo e não viu ela chegar. Perícia feita no computador de João Félix, no entanto, comprova que ele usava a internet na hora em que relatou estar dormindo.
Pressionado com a contradição, João Félix se negou a fazer teste do polígrafo (detector de mentiras), um aparelho no qual o interrogado é conectado e que mostra mudanças emocionais durante um interrogatório feito pela Polícia. O pai do rapaz e ex-marido de Cláudia, João Morato Fernandes, também caiu em contradição (segundo o promotor) e igualmente se negou a fazer o teste de polígrafo.
- Os suspeitos não são obrigados a fazer o teste de polígrafo, mas por que se recusaram? Outros suspeitos aceitaram e não mostraram alterações ao responder a questionários nesse caso - observa o promotor.
Mas, se não existe corpo, há pelo menos motivação que justifique a denúncia contra pai e filho? O promotor José Olavo diz que sim. O ex-marido de Cláudia, João Morato Fernandes, teve uma separação litigiosa. Inclusive a professora registrou queixa contra ele por agressões e ameaças pós-casamento. Já com o filho, Cláudia mantinha uma relação fria, afirma o promotor, porque o rapaz a culpava pela separação:
- O João Félix acreditava que a mãe tinha prejudicado o pai emocional e financeiramente, ao se separar.
João Morato Fernandes fazia doutorado e tem uma fazenda, em sociedade com irmãos. A suspeita da polícia e do Ministério Público é de que o corpo de Cláudia possa estar nessa propriedade rural. Buscas foram feitas, mas sem resultado até agora.
O promotor admite que não há uma prova conclusiva, mas um conjunto de circunstâncias e indícios que aponta pai e filho como autores do sumiço de Cláudia. Parte delas está em 85 horas de filmagens recolhidas pela Polícia Civil e que refazem trajetos percorridos pela professora antes de sumir. Resta agora esperar para ver se o juiz Paulo Medeiros vai aceitar a denúncia. Caso isso aconteça, João Moratto e João Félix podem enfrentar júri popular por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.