Por 15 minutos, o telefone do Corpo de Bombeiros de Passo Fundo recebeu ligações com relatos de tremor na área central da cidade na manhã desta segunda-feira (2). O abalo durou cerca de 30 segundos, não deixou feridos nem danos materiais.
A origem do tremor desta manhã ocorreu na Bolívia. O terremoto de magnitude 6.8 atingiu a região de Carandayti e foi sentido também em cidades do interior e do litoral de São Paulo, no Paraná, em Brasília, em Santa Catarina e em Minas Gerais.
Doutor em sismologia e membro do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, o professor Lucas Vieira Barros comenta que a rigidez do solo faz com que alguns locais sejam mais ou menos afetados pela liberação de energia causada pelo movimento das placas tectônicas. Isso explica o tremor sentido em Passo Fundo.
— Terrenos mais frouxos, moles, tendem a sentir mais essas ondas causadas a mais de 500 quilômetros de profundidade, como o terremoto que balançou a Bolívia. Em alguns casos, os estragos são maiores em cidades que ficam mais distante do epicentro do tremor. É normal, também, que prédios mais altos sejam mais afetados — detalha.
O especialista acrescenta que o terremoto na Bolívia, refletido no Brasil, foi causado pelo atrito de duas placas tectônicas: Nazca e Sul-Americana. Isso ocasionou deslocamento de terra no interior do planeta e liberou energia em forma de vibração.
— Tremeu a 500 quilômetros de profundidade e tudo o que estava em cima oscilou, vibrou. Alguns lugares balançaram mais por conta da geologia.
Uma bióloga de 43 anos, que não quis se identificar, contou ao GaúchaZH que estava no escritório quando sentiu a cadeira tremer e as cortinas balançarem. Ela desceu imediatamente do 7º andar para o térreo do prédio onde trabalha, no centro de Passo Fundo.
– É uma sensação de que o corpo está chacoalhando. Como quem tem labirintite sente, sabe? – explicou.
E por que isso acontece? De acordo com Marcelo Bianchi, do Centro de Sismologia da USP, quem está em locais mais altos pode sentir mais os efeitos:
— Depende muito da pessoa, se ela está dentro de casa, descansando, está mais propicia a sentir os efeitos. Em geral, pessoas em edifício sentem mais porque a estrutura acaba amplificando as ondas.
Terremotos nos Andes continuarão sendo sentidos no Brasil, diz professor
— Essa não foi a primeira vez, nem será a última. Sismos grandes e profundos vão continuar acontecendo nos Andes e sentidos aqui no Brasil — disse Barros.
Apesar de serem terremotos fortes, os tremores nos Andes não são suficientes para causar grandes estragos no Brasil.
— A região dos Andes é uma região sismogênica com potencial de gerar grandes terremotos. Esses terremotos, por maior que sejam, podem ser percebidos no Brasil, mas dificilmente eles terão potencial de gerar danos aqui no Brasil — explicou.
O terremoto
De acordo com informações do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), o tremor aconteceu a 557 quilômetros de profundidade e a cerca de 13 quilômetros de Carandayti. Também houve registro de tremores de menor intensidade a 99 quilômetros de Uyuni, na Bolívia, e no norte do Chile.
O Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB) afirma que o incidente foi reflexo de um terremoto de magnitude 6.8 — em uma escala que vai até 10 —, sentido na Bolívia, por volta das 6h50min desta segunda.
Segundo o Centro de Sismologia da USP, o fenômeno não é incomum para sismos desta magnitude.