Na semana marcada pelo Dia Internacional da Mulher, o ciclo de palestras Em Pauta ZH — Debates sobre Jornalismo discutiu os desafios e as oportunidades das profissionais de imprensa nas redações do Brasil. O evento ocorreu na noite de quarta-feira (7), na sede do Grupo RBS, em Porto Alegre.
Para uma plateia formada por colaboradores da empresa e convidadas, a vice-presidente de Produto e Operações do Grupo RBS, Andiara Petterle, a editora do jornal O Globo Maiá Menezes e a professora da Escola de Comunicação, Artes e Design da PUCRS Camila Kieling discorreram sobre a naturalização do machismo e o avanço do feminismo nas redações.
Durante a conversa, mediada pela diretora de Redação dos Jornais do Grupo RBS, Marta Gleich, as convidadas reforçaram a urgência no combate a relações de poder abusivas e preconceitos. Para as palestrantes, a sociedade, incluindo o jornalismo, vivenciam um novo momento marcado pela rigorosa vigilância às discriminações.
A igualdade de gênero é um processo irrefreável e precisamos garantir que a gente crie condições para homens e mulheres aprenderem a navegar nos novos códigos culturais e discutirem os seus novos papéis. Este é o papel do jornalismo: refletir a realidade e refletir sobre a realidade.
ANDIARA PETTERLE
Vice-presidente de Produto e Operações do Grupo RBS
— Não tem caminho de volta. Agora, não é mais "se", mas "como" construir pontes. Temos uma cultura bastante machista, o que está bastante impregnado, inclusive nas mulheres — disse Andiara.
No início do debate, Maiá apresentou uma pesquisa elaborada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) sobre os desafios enfrentados pelas mulheres no exercício da profissão. O estudo mostrou dados preocupantes: mais de 92,3% das entrevistadas ouviram piadas machistas em seu ambiente de trabalho e 70,2% presenciaram ou souberam de caso de colega assediada.
Estou muito satisfeita com o debate porque estamos avançando e vamos avançar. Não tem volta, é para frente que vamos andar.
MARTA GLEICH
Diretora de Redação dos Jornais do Grupo RBS
— Há uma naturalização de situações de discriminação no nosso ambiente. É uma cultura da sociedade, mas que está mudando. Essa é uma excelente notícia, e o jornalismo tem a obrigação de mudar antes da cultura, porque estamos em uma área, em tese, de vanguarda — pontuou a editora, que coordenou o trabalho.
Maiá também mencionou as recomendações apresentadas pela Abraji após o mapeamento, como a implementação de mecanismos que garantam a igualdade de gênero nas empresas. Por sua vez, Andiara destacou o pioneirismo de colaboradoras da RBS na elaboração do grupo Iguais — criado em outubro de 2017, por iniciativa da jornalista Brunna Radaelli, o movimento tem o objetivo de promover encontros entre mulheres para que temas como feminismo e oportunidades de carreira sejam debatidos.
O seu gênero, em nenhuma hipótese, pode estar vinculado a sua capacidade de trabalho ou ao quanto você consegue auferir na sua profissão.
MAIÁ MENEZES
Editora de País do jornal O Globo e diretora da Abraji
— Felizmente, estamos em um momento em que há mulheres em posições de liderança, e essa responsabilidade é muito maior do que a de um homem. Mas sabemos que precisamos de um "empurrão". Esses comportamentos não irão parar sozinhos — sublinhou Andiara.
Ao fim, em uma avaliação sobre o meio acadêmico, Camila enfatizou a mudança de comportamento das novas gerações:
— O desafio de atacar o campo cultural no qual o machismo está inserido requer muita coragem e dá muito trabalho, mas temos de fazer juntos porque as coisas ficam mais fáceis. Onde temos medo, passamos a ter esperança. Eu lido com jovens diariamente e tem algo que me conforta: esse movimento é irrefreável.
Quando começamos a conversar umas com as outras, nos reconhecemos. O desafio de mudar esse campo cultural requer muita coragem, mas temos de mudá-lo juntas.
CAMILA KIELING
Professora da Escola de Comunicação, Artes e Design da PUCRS
Declarações:
"É um assunto muito caro para mim como estudante me preparando para o mercado de trabalho, como feminista e particularmente como mulher por conta das vivências. Já presenciei muitos casos de preconceito e é muito bom ouvir depoimentos de mulheres que já estão no mercado em um momento em que falamos tanto sobre representatividade. É importante compartilhar experiências para se inspirar."
Lucia Centeno, 21 anos, estudante de Jornalismo na ESPM
"Por mais que esteja melhorando, ainda percebemos muitos aspectos (sobre o machismo). Por isso, é muito importante discutir esse assunto, mas nem sempre temos oportunidade. Como foi dito, a cultura machista está naturalizada. Se conseguirmos discutir também com homens mais jovens para evitar comportamentos no futuro, pode ajudar."
Ana Melo, 20 anos, estudante de Jornalismo na ESPM
"Achei muito interessante a realização do evento porque é importante que as pessoas vejam que esse movimento existe e está acontecendo. De certa forma, fortalece o papel de fala das mulheres não só nas redações. A ZH espelha a nossa sociedade, e isso vai acabar se refletindo."
Tina Borba, 27 anos, estudante de Jornalismo na Unisinos