A família de um dos sobreviventes do acidente que matou no Ano-Novo sete pessoas em Santa Vitória do Palmar, no sul do Estado, foi vítima de um golpe. Com o filho Jonathan Ferreira da Silveira, 21 anos, internado há oito dias e em estado gravíssimo, Maria Ferreira, 52 anos, acreditou que um falso médico salvaria a vida do filho e depositou R$ 1,5 mil na conta dele.
— Quando uma mãe vê o filho em coma, sem falar e sem se mexer, não pensa direito, só quer que salvem a vida dele — afirmou a dona de casa, que está desempregada.
Identificando-se como o infectologista "Magno Patrick Martins Fernandes", o falso médico ligou para Maria quando ela saía para almoçar na última sexta-feira (5). Pouco antes, um médico da UTI da Santa Casa de Rio Grande havia dito que o caso de Jonathan, que sofreu traumatismo craniano no acidente, era grave e que não havia o que fazer naquele momento.
— Então esse homem me ligou, dizendo que um exame de sangue detectou uma bactéria e um coágulo que poderia ser câncer, e que meu filho não podia mais esperar para ser operado. Ele me passou o valor e a conta, pediu xerox das nossas identidades, parecia tudo certinho. Daí eu saí enlouquecida e fiz tudo — conta Maria.
Quando ela retornou ao hospital, no mesmo dia, esperando pelo início imediato da cirurgia, recebeu outra ligação do falso médico. Do outro lado, descobriu que tinha sido vítima de um golpe.
— Ele simplesmente me ligou e disse: "Maria, tu me desculpa, tu me perdoa, me perdoa mesmo, mas tu caiu num golpe e teu filho não vai passar por cirurgia. Sou um presidiário". E desligou. Me senti sem chão. Eu só queria salvar a vida do meu filho — desabafou.
Uma das irmãs de Jonathan, Karina Ferreira da Silveira, 18 anos, acredita que o golpista usou de informações compartilhadas por familiares nas redes sociais, incluindo o telefone de uma irmã para contribuições. Ao pesquisar na internet, ela descobriu que o mesmo "Dr. Magno" foi um nome utilizado em outros golpes pelo país afora.
— Na hora do desespero, qual mãe pensa? — ressaltou Karina, acrescentando que a família registrou ocorrência na polícia.
Dinheiro veio de campanha de arrecadação
Os R$ 1,5 mil pagos ao golpista vieram da campanha de arrecadação mobilizada por amigos de Jonathan em Santa Vitória do Palmar, onde mora a família, para ajudar no tratamento, já que os parentes não têm condições de arcar com todos os custos. Caixinhas de doação foram espalhadas pela cidade (foto ao lado), uma conta bancária foi divulgada nas redes sociais e uma vaquinha online também foi criada.
Quinto filho de uma família com seis irmãos, Jonathan mora sozinho e trabalha em um supermercado de Santa Vitória do Palmar. No último dia de 2017, ele trabalhou e depois passou a virada do ano com os amigos da igreja que frequenta. No dia seguinte, fez parte de um comboio de seis carros, com os mesmos conhecidos, que tinha como destino a Praia da Capilha, em Rio Grande.
No meio do caminho, o Fiesta em que ele estava colidiu frontalmente com um táxi que transportava cubanos para o Uruguai. As três mulheres que estavam no mesmo carro que ele morreram na hora, além de três cubanos e do taxista.
O outro sobrevivente do acidente é o cubano Armando Sossa, de 24 anos, que também continua internado na UTI da Santa Casa de Rio Grande.