O retrato da nova onda de atentados à segurança pública de Santa Catarina tem um triste reflexo: as mortes em confrontos entre suspeitos de crimes e policiais militares. Em menos de um mês, Santa Catarina chegou a 12 mortes em situações que podem ser consideradas de combate – foram oito homens apontados como criminosos e quatro agentes de segurança pública, em diferentes cidades do Estado.
A última morte desta lista macabra foi registrada na tarde de terça-feira, em Itajaí. Policiais abordaram suspeitos, e um jovem de 20 anos foi atingido. Ele teria apontado uma arma na direção dos PMs. Na última semana, houve mortes de criminosos também em Joinville, Florianópolis, Balneário Piçarras e Brunópolis (veja abaixo). Essa realidade faz crescer as estatísticas de letalidade policial e inclui tensão e apreensão em um quadro de embate perigoso para todos os lados.
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Mas as quantidades de mortes são consideráveis em ambos os lados. Em todo o ano passado, um policial militar perdeu a vida em serviço. Já neste ano, só em agosto, três policiais foram assassinados. A quarta morte de servidores da segurança pública foi de um agente prisional, no dia 18 de agosto, em Joinville. Desde lá, também houve tentativas de homicídio contra servidores da segurança e vários deles tiveram a casa alvejada pelo crime organizado.
O presidente da Associação de Praças de SC (Aprasc), Edson Fortuna, admite um quadro de tensão e apreensão. De acordo com fontes de dentro das corporações, em áreas críticas, PMs estão se deslocando para o atendimento apenas em duas viaturas em razão do alto risco.
– É o reflexo, há tensão, apreensão e elevado nível de estresse. O próprio aumento do contingente de policiais nas ruas aumentou a possibilidade de confrontos – explica Fortuna, defendendo medidas de investimentos sociais na segurança e fortalecimento de ações contra o tráfico de drogas e entrada de armas no país.
A SSP afirma que todas as mortes de policiais foram esclarecidas.
OS CASOS:
Suspeitos de crime - Oito mortes
5 de setembro
Itajaí - Uma morte
Um suposto integrante de facção criminosa foi morto no bairro Espinheiros após operação da PM. Enquanto policiais faziam buscas em uma casa investigada, o rapaz teria apontado a arma contra os agentes.
4 de setembro
Joinville - Uma morte
Um homem foi morto na noite de segunda-feira, 4 de setembro, após ataque contra delegacia de Polícia Civil do Morro do Meio, na zona oeste de Joinville.
Balneário Piçarras - Uma morte
Uma ação da PM de Navegantes na noite de segunda-feira terminou com a morte de um homem apontado como líder de uma facção criminosa na região.
Brunópolis - Duas mortes
Dois mortos após confronto entre policiais e suspeitos de roubo a uma cooperativa na segunda-feira.
3 de setembro
Itajaí - Duas mortes
Dois homens morreram na noite de domingo em um confronto com policiais militares logo após dispararem contra a sede da 2ª Companhia do 1º Batalhão da PM, no bairro São Vicente.
Florianópolis - Uma morte
Um homem morreu em confronto com a PM na Vila União, comunidade do norte da Ilha, na madrugada de domingo. Outro foi baleado e sobreviveu.
Agentes da segurança pública - Quatro mortes
Florianópolis - Uma morte
O PM da reserva Celso Olivério da Costa morreu na noite de 11 de agosto quando fazia segurança para uma padaria no Estreito. A polícia afirma que foi um assalto seguido de morte (latrocínio) e que houve reação do policial.
Joinville - Duas mortes
O agente penitenciário Elton de Oliveira Maximo, 33 anos, foi executado a tiros na zona sul em 18 de agosto.Em 28 de agosto, atiradores executaram o PM Joacir Roberto Vieira, 43 anos, quando ele estava de folga na rua Monsenhor Gercino.
Camboriú - Uma morte
O PM da reserva Edson Abílio Alves foi executado com tiros na cabeça por um homem na frente de uma padaria em 30 de agosto.
"Legalidade" em debate entre as polícias
Paralelamente ao campo minado entre policiais e as facções criminosas, conflitos de competência entre as polícias Civil e Militar prejudicam a integração entre as forças em momento de crise.
A Associação dos Delegados de Polícia de SC emitiu nota ontem questionando a atribuição de cada corporação diante das apurações dos homicídios, ressaltando que cabe à Polícia Civil a investigação desses crimes e não à PM. O texto é uma resposta à ação de policiais militares em Brunópolis, onde dois homens morreram em confronto. Armas, celulares e dinheiro dos suspeitos foram levados ao quartel para investigação dos crimes, conforme a associação.
Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SC, Sandro Sell, o Estado continua com uma postura mais reativa do que preventiva aos ataques e, nessa lógica, é esperado que haja um número elevado de mortes.
– Parece que o único modo de fugirmos dessa lógica reativa é atacar as causas, que estão concentradas no caos do sistema prisional brasileiro. Há uma enorme preocupação em prender e pouca preocupação com os locais e formas de vida na prisão.
O secretário-adjunto da SSP, Aldo Pinheiro D’Ávila, defende que há um sentimento de impunidade, o que afeta o servidor que efetuou a prisão.
– Resolver esse tipo de crime é uma questão de honra. Não vamos parar até que esses crimes sejam totalmente esclarecidos – diz.