Na primeira manifestação de peso sobre supostos pagamentos de suborno que teria autorizado quando governava Mato Grosso, o ex-governador daquele Estado e atual ministro da Agricultura Blairo Maggi (PP) disse que não deve nada à Justiça e, se o presidente Michel Temer desejar, deixa o governo. Ele inclusive mencionou que dedica ao governo uma carga horária muito maior do que precisaria, já que é um dos maiores produtores de soja do mundo.
– Sou produtor rural, não vivo do cargo de ministro, não preciso do cargo. No momento em que sentir que não devo persistir, saio. Ou se o presidente (Temer) pedir – desabafou Maggi, em bate-papo com a imprensa durante a abertura da 40ª Expointer, em Esteio (RS).
Maggi está no centro de um inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), que considera o ministro um dos chefes de uma organização criminosa "que se instalou no alto escalão do governo de Mato Grosso e que se dedicava à gestões fraudulentas, lavagem de dinheiro e corrupção ativa". Enquanto era governador, Maggi teria autorizado pagamentos de até R$ 30 mil para cada deputado estadual mato-grossense, no ano de 2003, para garantir aprovação de projetos de agrado do governo. Quem diz isso é o ex-governador mato-grossense Silval Barbosa (PMDB), que está preso por corrupção e se tornou colaborador premiado da PGR.
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Silval era vice-governador na época em que Maggi se elegeu governador pela primeira vez, em 2003 (Maggi ficou no governo até 2010). Para garantir o pagamento do "mensalinho" aos deputados, Maggi teria autorizado suplementação orçamentária de R$ 15 milhões para a Assembleia Legislativa. Ele também teria autorizado pagamento de precatórios estaduais (dívida decorrente de sentenças judiciais) em troca de apoio parlamentar. Silval Barbosa também citou Blairo em pelo menos duas suspeitas de obstrução de justiça - tentativa de interferir nas investigações.
Ao chegar na Expointer para a cerimônia de abertura, Maggi foi cercado por repórteres e a primeira pergunta feita foi sobre as suspeitas de pagamento de suborno que pairam sobre ele. O ministro ficou vermelho, deu uma risada e disse que sabia que esse seria o primeiro questionamento da mídia. Ele admite ter sido procurado por parlamentares para que fizesse repasses de ajuda, mas garante não ter aceitado.
– Houve suplementações orçamentárias autorizadas pelo governo para a Assembleia Legislativa, todas dentro da legalidade. Mensalinho? De forma alguma. Não preciso agir na ilegalidade – refutou Maggi.
O ministro chamou as acusações de "sensacionalistas" e credita elas a "presos que desejam sair da cadeia", numa referência direta ao seu ex-parceiro e ex-governador Silval Barbosa.
– Eles contam uma história e o Ministério Público aceita. Tem que cuidar com o sensacionalismo. Tivemos a Operação Carne Fraca este ano, uma operação policial que questionou a sanidade dos abates nos frigoríficos. Perdemos mercados mundiais e milhões de reais do dia para a noite. Depois foi verificado que as irregularidades não eram tudo aquilo. Mas serviu para fazermos modificações, até mesmo por exigência dos importadores. Tudo é aprendizado – concluiu o ministro, que fez um passeio pela Expointer, acompanhado do governador do RS, José Ivo Sartori.